Baptismo do Senhor - Ano C

10-01-2016 09:40

 

 

"Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo.” Lc 3, 16

 

Como ser Santo?

A pergunta parecia feita por uma criança mas quem a fazia era um adulto: “O que fez S. Domingos para ser santo?” Pensei imediatamente naquilo que sabia da sua história, e na de outros santos, à procura de uma resposta que pudesse satisfazer a curiosidade e fosse simples de entender. E dei-me a gaguejar e a dizer atabalhoadamente: “Olha, fundou uma ordem religiosa que tem o seu nome: os Dominicanos!” Claro que não é isso que faz alguém santo (mas diz-se que ajuda muito!), e juntei logo a amizade com Jesus, a sua vida ao serviço de Deus pelo estudo e pelo anúncio aos homens, e dos milagres, claro, como é que pode haver santos sem milagres? Mas por dentro ia sentindo como era difícil o que diz S. Paulo na Carta aos Romanos e gosto tanto de lembrar nos baptismos: somos “amados por Deus e chamados a ser santos” (1, 7)!

Da santidade persistem muitas ideias “piedosas” e desencarnadas, de uma espiritualidade melosa, de fuga ou luta com o mundo, como se Deus não tivesse entrado na condição humana pela encarnação de Jesus. Ao mergulhar nas águas do Jordão o evangelista Lucas diz que, “quando todo o povo recebeu o baptismo, Jesus também foi baptizado”. Não para se purificar dos pecados (que não tinha), mas para nos dizer que nenhum pecado humano ficaria fora do alcance da misericórdia do Pai. Este é o estilo de Deus e a santidade que nos oferece: nada do que é humano lhe é estranho, e todo o ser humano é amado incondicionalmente. Por isso vem para fazer encontro connosco, para vencer a solidão que nos desumaniza, para dialogar e partilhar, para comunicar e acolher, para fazer festa connosco! Que pena esquecermos tanto que a festa é um dos grandes sinais da santidade!

Entre o “fui baptizado” e o sou “baptizado” há um salto qualitativo. De uma festa, mais ou menos bonita, para o começo de uma vida nova; de padrinhos mais ou menos “negociados” com a Igreja, para a pertença a uma comunidade; de algo que aconteceu na história, para uma relação viva com Deus e com os outros. No fundo, a diferença entre a água e o fogo, o estar vivo e o ser vivo, a vida que dura e a vida que cresce! Será verdade que a fé é algo que até pode “servir e dar jeito” em algumas situações, mas tem pouco a ver com as “coisas” deste mundo? Para quê acreditar, se não for para viver em mais plenitude? Aqui, mergulhando na vida e atrevendo-nos a ser humanos até ao fim, pois não há outro caminho de santidade senão o dos dias que construímos; aqui, rejeitando toda a espécie de escravidão, especialmente as prisões das coisas e do imediato, dos prazeres não partilhados e das mentiras que nos desfeiam; aqui, promovendo a ternura e a esperança, amando com todas as forças e salvando quantos pudermos; aqui e agora, porque a eternidade será sempre trabalho de Deus, mas o tempo é da nossa responsabilidade! Com a grande certeza de que o seu amor por nós será sempre como o fogo que aquece e ilumina. É esse fogo que se reconhece na vida dos santos!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo tem como cenário de fundo o projecto salvador de Deus. No Baptismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projecto do Pai, Jesus fez-Se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado, empenhou-Se em promover-nos para que pudéssemos chegar à vida plena.

  • A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Animado pelo Espírito de Deus, Ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.
  • No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética veiculada pela primeira leitura: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito, e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
  • A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projecto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.

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