Baptismo do Senhor - Ano B

10-01-2021 09:00

 

"Dos céus ouviu-se uma voz: "Tu és o meu Filho muito amado,

em Ti pus toda a minha complacência"." Mc 1,11

 

Se cada dia tem um certo sabor a princípio, assim também o ritmo com que celebramos o tempo. É verdade que há rotinas, ciclos organizados, mas a vida não é um eterno retorno. Gosto de visualizar o tempo como uma espiral ascendente, sem nunca nada se repetir, ainda que realizemos gestos idênticos, há sempre um presente que pode ser novo. É o encanto que pomos até naquilo que tem de ser repetido. 

Despedimo-nos das festas natalícias com o coração apertado pelos números crescentes da pandemia. E trazemos o coração cheio pela entrega de todos os profissionais de saúde que se multiplicam em cuidados a quem sofre. Bem nos ofereceu o Papa Francisco como percurso para a paz a responsabilidade do cuidado. Que a sua mensagem possa iluminar os momentos mais escuros dos nossos dias e das nossas decisões. E também nos anime a voz de Carlos do Carmo a trazer-nos melodias e letras inesquecíveis e tão cheias de beleza. Sim, da beleza que salva o mundo! 

Ao entrar no rio Jordão, Jesus vem no meio do povo, identificando-se com a nossa carne, revelando-se “Deus connosco”. Sem precisar da purificação das águas, desce à fragilidade humana, como vem ao encontro da realidade mais desumanizada de cada um de nós porque nos ama e quer salvar-nos. Com Ele mergulharemos na sua vida, paixão e morte, que o nosso baptismo realizou, e começou então a nossa ressurreição. Por entre os presentes de Natal, deslumbrei-me com os poemas de Adélia Prado, na antologia “Tudo o que existe louvará” e ofereço-vos um deles: “É inútil o batismo para o corpo, / o esforço de uma doutrina para ungir-nos, / não coma, não beba, mantenha os quadris imóveis. / Porque estes não são pecados do corpo. / À alma, sim, a esta batizai, crismai, / escrevei para ela a Imitação de Cristo. / O corpo não tem desvãos, / só inocência e beleza, / tanta que Deus nos imita / e quer casar com a sua Igreja / e declara que os peitos da sua amada / são como os filhotes gêmeos da gazela. / É inútil o batismo para o corpo. / O que tem suas leis as cumprirá. / Os olhos verão a Deus.” 

Os céus abertos, a pomba que desce, a voz do Pai são identificadores de Jesus, o Filho amado. E o Pai que só sabe dizer o mesmo, a Jesus, e a cada um de nós. “Tu és meu (minha) filho (filha) muito amado(a)”! O que fazemos desse amor que vem a nós como cascata abundante? Conseguimos viver como amados, ou esperamos que isso signifique que “tudo corre bem”? Por onde começar, de novo, a jorrá-lo generosamente? Pode ser pela voz que também é maravilhosamente criadora!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo tem como cenário de fundo o projecto salvador de Deus. No baptismo de Jesus nas margens do Jordão, revela-se o Filho amado de Deus, que veio ao mundo enviado pelo Pai, com a missão de salvar e libertar os homens. Cumprindo o projecto do Pai, Ele fez-se um de nós, partilhou a nossa fragilidade e humanidade, libertou-nos do egoísmo e do pecado e empenhou-Se em promover-nos, para que pudéssemos chegar à vida em plenitude.

  • A primeira leitura anuncia um misterioso “Servo”, escolhido por Deus e enviado aos homens para instaurar um mundo de justiça e de paz sem fim… Investido do Espírito de Deus, ele concretizará essa missão com humildade e simplicidade, sem recorrer ao poder, à imposição, à prepotência, pois esses esquemas não são os de Deus.
  • No Evangelho, aparece-nos a concretização da promessa profética: Jesus é o Filho/”Servo” enviado pelo Pai, sobre quem repousa o Espírito e cuja missão é realizar a libertação dos homens. Obedecendo ao Pai, Ele tornou-Se pessoa, identificou-Se com as fragilidades dos homens, caminhou ao lado deles, a fim de os promover e de os levar à reconciliação com Deus, à vida em plenitude.
  • A segunda leitura reafirma que Jesus é o Filho amado que o Pai enviou ao mundo para concretizar um projecto de salvação; por isso, Ele “passou pelo mundo fazendo o bem” e libertando todos os que eram oprimidos. É este o testemunho que os discípulos devem dar, para que a salvação que Deus oferece chegue a todos os povos da terra.

Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

scj.lu@netcabo.pt

 

 

Pe. Vitor Gonçalves

Rádio Renascença