Apresentação do Senhor - Ano A

02-02-2014 08:57

 

 

"O Espírito Santo revelara-lhe que não morreria antes de ver o Messias do Senhor”.

Lc 2, 26

 

A alegria do nascimento de Jesus prolonga-se, no Evangelho de São Lucas, na 

festa da sua apresentação no Templo, cumprindo a lei judaica. E a nós, já sem 

luzes e só com os saldos que “prolongaram” o Natal, passaria despercebida esta 

festa não fosse calhar a um Domingo. Depois dos pastores, são dois “velhinhos”, 

Simeão e Ana, os que vão experimentar a alegria de um encontro esperado e

 surpreendente. Assim, esta festa reveste-se de várias tonalidades e usos pastorais: 

bênção das crianças recém-baptizadas ou recém-nascidas, acção de graças

 pela vida consagrada, celebração pela vida longa dos mais idosos. E entre o início

 da vida, a vida comprometida em serviço de Deus e dos irmãos e o entardecer da 

vida que, se Deus nos der vida e saúde, todos havemos de lá chegar” (como dizia 

a senhora Maria nos seus 87 anos) escolho o último para estas palavras.

No número do 2º semestre de 2013 da revista “Cidade Solidária”, da Misericórdia de 

Lisboa, são apresentados os resultados de um inquérito sobre os idosos e o isolamento 

na cidade de Lisboa. Dos 22679 inquiridos, 60% tinham mais de 75 anos, 80% tinham 

filhos vivos, 86% viviam em andares, 1/3 vivia só (410 muito isolados e 4256 isolados), 

87% viviam da pensão de reforma, sendo a maioria dos sós, viúvas e pessoas solteiras. 

Não seriam precisos estes dados para constatarmos uma realidade que nos toca e faz 

sofrer a todos. Agora e nas perspectivas do futuro! E se a vida longa é considerada uma 

bênção nos textos da Bíblia, uma riqueza para as sociedades quando se valoriza a

 sabedoria e o reconhecimento dos mais velhos, o estado social treme quando se fixa 

nas contabilidades, e o tempo de todos parece sempre ser diminuto mesmo para os 

familiares mais chegados. A mentalidade utilitária e descartável, dispersa na procura 

egoísta do prazer e na exaltação da juventude, recusa enfrentar com lucidez a perspectiva 

de um envelhecimento que nos atingirá a todos. Que pode ser vivido não como condenação

 mas como oportunidade, com aceitação e reconciliação, com simplicidade e sabedoria. 

É aí que podemos deixar entrar o Espírito Santo!

Simeão e Ana experimentaram a alegria do encontro com Jesus porque acolheram o

 Espírito Santo. Não se fecharam no lamento ou na amargura, mas confiaram na esperança.

 E essa intimidade com Deus certamente começou muito antes da velhice. Trata-se de viver 

na fé e olhar com os olhos de Deus o que nos rodeia. Com generosidade e criatividade, 

empequenas redes de vizinhança e proximidade, muitos isolamentos acabariam. Quantos

 “Simeões e Anas” esperam um encontro luminoso que paróquias, movimentos, famílias, 

amigos, poderíamos desencadear? E com que beleza queremos pintar o nosso entardecer?

 Pe. Vitor Gonçalves, 

in Voz da Verdade