9º Domingo do Tempo Comum - Ano C

29-05-2016 17:57

 

 

“Diz uma palavra e o meu servo será curado.” Lc 7, 7
 
 
 
A procura da felicidade é afirmada na Declaração de Independência norte-americana e inspira a sua Constituição, bem como muitas outras do mundo inteiro. Que isso seja mesmo proporcionado aos cidadãos é um desafio constante. Claro que os critérios de felicidade podem ser muitos, e subjectivos, e o egoísmo humano tende a considerar “a minha felicidade” mais importante e necessária do que “a dos outros”. Mas, se se provasse que não somos verdadeiramente felizes sem os outros?
Um recente estudo da Universidade de Sewanee, no Tennessee, Estados Unidos, concluiu que o que torna realmente felizes as pessoas são os actos de generosidade com as outras pessoas. Mais do que as tarefas para melhorar o mundo que nos rodeia ou as ações de prazer para si próprio, o que produz maior gratificação interior são os pequenos gestos de bondade e amabilidade com os que nos rodeiam. O bem que se espalha e distribui gratuitamente é mais duradouro do que o acumular egoísta de bens ou de sensações.
É a felicidade do dar e do pedir, por e para alguém, a quem queremos muito e até amamos, que transparece na súplica do centurião de Cafarnaum. É uma personagem singular este homem importante e considerado, pagão de origem, capaz de uma humildade que surpreende Jesus e a nós também. Não pede por um familiar ou um amigo mas por um escravo. Que sofria horrivelmente. E, conhecedor das regras da pureza judaica, traduziu numa frase a fé que Jesus elogiou, e a liturgia coloca na boca de todos nós antes de recebermos o Corpo de Cristo. Uma frase que nos liberta da armadilha do mérito e do perfeccionismo, e nos abre ao dom de Deus e à comunhão com os outros. É possível “receber Jesus” sem nos aproximarmos e ter laços de vida com outros? Não apenas do círculo de conhecidos e amigos, mas das nossas periferias e dos desertos da indiferença.
No pedido do centurião saboreia-se a unidade das virtudes teologais. A caridade alimenta a esperança e produz a fé. Ou será a esperança que nasce da caridade e arrisca a fé? O que certamente existe primeiro é o amor e o cuidado por quem sofre, capaz de vencer a auto-suficiência que isola e fecha, e dar o salto de uma súplica cheia de esperança. É assim que a fé conduz sempre ao amor, não existe por ou para si mesma, e o gesto salvador de Jesus é antecipação da Páscoa oferecida a todos. Grande é a responsabilidade de todos os que nos dizemos “ter fé”. Ela tem de se concretizar em amor concreto e universal, amor que caminha e faz caminhar, amor que perdoa e levanta, que é humilde para pedir e ter esperança.
Admiro a feliz síntese do poeta José Gomes Ferreira: “Para além do 'ser ou não ser' dos problemas ocos, / O que importa é isto: / -- Penso nos outros. / Logo existo.” Acreditamos mesmo que não somos felizes sem os outros?
 
Pe. Vitor Gonçalves
in Voz da Verdade
 
 
 
A liturgia deste domingo dá-nos conta da expansão da fé, não mais confinada ao território histórico de Israel. Este tema está bem presente no convite do refrão do Salmo, a anunciar o Evangelho em todo o mundo.
  • Na primeira leitura, Salomão invoca o Senhor, pedindo que escute as orações que os estrangeiros lhe dirigirem no Templo de Jerusalém, de modo que o Senhor seja conhecido para lá das fronteiras de Israel e todos os povos possam prestar culto ao Deus de Israel.
  • Na segunda leitura, Paulo apresenta-se como guardião do verdadeiro Evangelho de Cristo que é anunciado também aos pagãos, reclamando a falsidade de qualquer outra mensagem que negue que a salvação de Deus vem pela fé em Jesus Cristo, de quem ele recebeu o Evangelho que agora transmite.
  • O Evangelho mostra-nos a grande fé de um estrangeiro, um oficial romano, que coloca toda a sua confiança na misericórdia de Jesus e na sua Palavra, enquanto pede a cura de um seu servo. Jesus acede à sua súplica e mostra admiração pela grande fé deste homem estrangeiro.

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