5º Domingo do Tempo Quaresmal - Ano B

21-03-2021 08:20

 

 

"Se o grão de trigo, lançado à Terra, não morrer, fica só, mas se morrer, dará muito fruto"  Jo 12,24

 

1. Ainda bem que temos de usar máscaras para nos protegermos da pandemia em vez de vendas. Se o contágio se desse pelo olhar, uma espécie cegueira branca como a que Saramago escreveu no seu “Ensaio sobre a Cegueira”, seria maior o sofrimento. Assim, custa-nos mais falar e sorrir, mas os olhos não são “as janelas da alma”? Ver é prolongar a mente e o coração, é descobrir o belo e o novo, é começar a conhecer. Uns gregos pediram para ver Jesus. Tinham ouvido falar d’Ele. Mas queriam vê-l’O, não por mera curiosidade, mas desejosos de O conhecer. Não eram judeus e, dirigiram-se aos dois discípulos com nome grego, Flipe e André, que os levaram a Jesus. Quanto vale a amizade daqueles que nos levam a ver Jesus! E Jesus começa a falar-lhes da sua “hora”. Do tempo que começa e não mais acaba, como não acaba a conversa de todo aquele que quer “ver Jesus”, onde o presente de cruz e glória de Jesus é o futuro dos seus discípulos. Esta “hora” anunciada e desejada é o tempo todo aberto do amor de Deus ao mundo, largo como o horizonte do mar imenso, a alcançar judeus e gregos, e todos, todos mesmo. É pelos olhos brilhantes que Jesus acende em nós que nos contagiamos, como escreveu Sophia: “Vimos o mundo aceso nos seus olhos, / E por os ter olhado nós ficámos / Penetrados de força e de destino.” 

2. Somos como os grãos de trigo. Lançados à escuridão, não da terra, mas do confinamento, em casa, em tele-trabalho, e tele-escola, e “tele-vida”. Aceitando tudo como provisório, ainda que longo demais. E há demasiados sinais de morte a rodear-nos, ao mesmo tempo que muitos dão a vida para não perder a vida de ninguém. Redescobrimos a responsabilidade de pensar nos outros primeiro, de como tudo é frágil, e os egoísmos e ganâncias só alimentam a maldade e a morte. Como pequenos rebentos, frágeis e cautelosos, não podemos esquecer o que aprendemos. Só teremos vida se a dermos. Com coragem e responsabilidade. De pouco adianta uns salvarem-se, com vacinas ou tendo a saúde como um luxo e não como um direito e um dever, com passaportes saudáveis, se para todos a indiferença alastrar como a maior pandemia. Morrer para dar vida é o que a natureza nos revela e Jesus nos ensina. Como recordava José Gomes Ferreira: "Para  além do "ser ou não ser" dos problemas ocos/ o que importa é isto: / - Penso nos outros / Logo existo".

3. Jesus, elevado da terra na cruz, atraiu todos a si. A atracção é fruto da beleza, que se oferece no trabalho de Deus e no trabalho humano. O trabalho do amor crucificado de Jesus prolonga-se nos que acreditam e vivem d’Ele. Assim, é preciso que o amor penetre tudo o que somos e fazemos. Dizia Khalil Gibran: “Só é grande / quem transforma a voz do vento / em canto tornado mais doce / pelo próprio amor. // O trabalho é amor / tornado visível.” É essa a atracção pascal!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

Na liturgia do 5º Domingo da Quaresma ecoa, com insistência, a preocupação de Deus no sentido de apontar ao homem o caminho da salvação e da vida definitiva. A Palavra de Deus garante-nos que a salvação passa por uma vida vivida na escuta atenta dos projectos de Deus e na doação total aos irmãos.

  • Na primeira leitura, Jahwéh apresenta a Israel a proposta de uma nova Aliança. Essa Aliança implica que Deus mude o coração do Povo, pois só com um coração transformado o homem será capaz de pensar, de decidir e de agir de acordo com as propostas de Deus.
  • A segunda leitura apresenta-nos Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança, que Se solidariza com os homens e lhes aponta o caminho da salvação. Esse caminho (e que é o mesmo caminho que Jesus seguiu) passa por viver no diálogo com Deus, na descoberta dos seus desafios e propostas, na obediência radical aos seus projectos.
  • O Evangelho convida-nos a olhar para Jesus, a aprender com Ele, a segui-l'O no caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de morte; mas é desse caminho de amor e de doação que brota a vida verdadeira e eterna que Deus nos quer oferecer.

Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt

 

Pe. Vitor Gonçalves

Rádio Renascença