5º Domingo da Páscoa - Ano B

03-05-2015 08:56

"Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto.” Jo 10, 11

 

O tema da inteligência artificial parece cada vez mais actual. Por um lado, as possibilidades técnicas sempre mais avançadas parecem oferecer uma segurança às tarefas desempenhadas por máquinas; e, por outro, os humanos parecem cada vez menos merecedores de confiança (como dramaticamente se sugeria no recente suicídio do piloto da German Wings que matou mais de 150 passageiros). Seria melhor substituir os pilotos humanos por computadores avançados?  

Creio que o filme, ainda em exibição, “Ex machina” aborda também este tema mas ainda não pude ir vê-lo. Mas lembro-me do famoso “AI – Inteligência artificial” de Steven Spielberg, em que o menino “robot” tinha como maior sonho poder ter uma mãe! Por maiores artificialismos que criemos, não há verdadeira inteligência sem os laços afectivos que nos fazem humanos, sem a seiva de memória e valores, de liberdade e criatividade, de que somos formados. Mas o perigo existe: se não cuidamos da nossa inteligência, se a desligamos de qualquer referência a valores maiores do que nós, tornamo-nos desumanos. E uma das formas mais insidiosas de desumanidade é a subordinação de todos outros valores ao valor do dinheiro. Não é ele, infelizmente, que parece ligar situações tão dramáticas (e nas devidas proporções) como o assassínio de quatro pessoas por questões de bens e partilhas na Póvoa do Varzim, e a greve dos pilotos da Tap que irá prejudicar a vida de 300.000 passageiros em 10 dias? De que inteligência humana estamos a falar?

A imagem da união da videira e dos ramos que Jesus conta no Evangelho deste Domingo serve para entender a ausência de frutos nos ramos, onde não corre a seiva do Ressuscitado. Não basta parecer estar unido a Cristo porque se têm os sacramentos todos, como não basta ter um uniforme para pertencer a um grupo, ou ter uma cabeça sobre os ombros para ser uma pessoa (pode apenas servir para pôr o chapéu). Se a vida de Cristo não passa pela nossa vida, e pela verdadeira coerência de pensamentos e actos, tudo o que é religioso transforma-se em folclore, e a naturalidade de uma relação viva torna-se artificial. A imagem do “robot”, que funciona sem questionar, nem se emocionar, pode ser muito forte mas não deixa de me interpelar. A seiva vivificante de Jesus Ressuscitado convida-nos a uma relação viva com Jesus e com os irmãos, a uma coragem em abandonar esquemas e roupagens que são anacrónicos, a uma paixão pelo seu projecto de uma humanidade mais feliz. Claro que se a nossa realização de cristãos não se distingue daquela que promove a concentração egoísta de bens e riquezas, de direitos sem consciência de deveres, de indiferença pela miséria de tantos, que frutos damos?

Poderemos chamar inteligência artificial a muitos produtos humanos, mas a inteligência que Deus nos oferece tem coração. E, por isso,“permanecer n’Ele” é condição de vida mais plena e mais realizada!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia do 5º Domingo da Páscoa convida-nos a reflectir sobre a nossa união a Cristo; e diz-nos que só unidos a Cristo temos acesso à vida verdadeira.

  • O Evangelho apresenta Jesus como “a verdadeira videira” que dá os frutos bons que Deus espera. Convida os discípulos a permanecerem unidos a Cristo, pois é d’Ele que eles recebem a vida plena. Se permanecerem em Cristo, os discípulos serão verdadeiras testemunhas no meio dos homens da vida e do amor de Deus.
  • A primeira leitura diz-nos que o cristão é membro de um corpo – o Corpo de Cristo. A sua vocação é seguir Cristo, integrado numa família de irmãos que partilha a mesma fé, percorrendo em conjunto o caminho do amor. É no diálogo e na partilha com os irmãos que a nossa fé nasce, cresce e amadurece e é na comunidade, unida por laços de amor e de fraternidade, que a nossa vocação se realiza plenamente.
  • A segunda leitura define o ser cristão como “acreditar em Jesus” e “amar-nos uns aos outros como Ele nos amou”. São esses os “frutos” que Deus espera de todos aqueles que estão unidos a Cristo, a “verdadeira videira”. Se praticarmos as obras do amor, temos a certeza de que estamos unidos a Cristo e que a vida de Cristo circula em nós.

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