4º Domingo da Páscoa - Ano B

26-04-2015 10:09

 

"O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.” Jo 10, 11

 

 

Parece muito drástica a distinção que Jesus fez entre “bom pastor” e “mercenários”. Mas entre “dar a vida” e “fugir a sete pés” também há uma grande distância! E com as palavras de Jesus sobre o bom pastor, que justamente serviriam para fazer o elogio das vocações de padres, religiosos e religiosas, missionários e consagrados, é fundamental não esquecer: todos somos pastores ou mercenários! Todos estamos em relação uns com os outros, e todos somos responsáveis por alguém!

O papel de “ovelha” sempre me pareceu um pouco passivo, mas pressinto nessa imagem a vulnerabilidade e fragilidade de tantos. Os africanos que demandam uma melhor vida e morrem engolidos no Mediterrâneo, entregando-se às mãos de verdadeiros traficantes de escravos da fome e da miséria de hoje; os portugueses desempregados e em risco de pobreza e exclusão social, conforme o relatório da Cáritas Europa 2015; os perseguidos e violentados por terem uma fé diferente. Enfim, a humanidade das muitas periferias, dos muitos abandonos e indiferenças, da dignidade de vida ainda não reconhecida. Ao fazer-se vulnerável, pedra rejeitada pelos construtores do mundo e da religião, não terá Jesus escolhido todos os vulneráveis e oprimidos, como “pedras angulares da ética” (na belíssima expressão de Marie-Dominique Trébuchet, no último número de “Prions en Église)? A dádiva de vida de Jesus - Bom pastor, unida à de todos os que se colocam ao serviço da humanidade ferida, mostra o fundamento pascal desta doação. Em que nos tornamos quando deixamos de arriscar para que os mais frágeis tenham uma vida digna? E se estamos em lugares de poder e responsabilidade, quantas vezes escandalosamente remunerados, que atenção cultivamos para não nos tornarmos mercenários?!   

Aprender a ser bom pastor insere-se no aprender a sermos humanos. Liga-se aos valores e à educação, na família e na convivência social. Aprende-se mais pelo exemplo do que pelas teorias, pelas escolhas e pela capacidade de aprender com os erros. Fundamenta-se em princípios que se chamam: direito à vida, à liberdade, ao trabalho, e a todos os outros da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Concretiza-se na responsabilidade por construir um mundo mais justo e humano. E para os que acreditamos em Jesus Cristo compromete-nos em dar a vida como Ele. Grava-se no nosso espírito desde tenra idade e, por isso, as palavras de Umberto Eco numa entrevista da revista do Expresso na semana passada são uma interpelação: “É impossível pensar o futuro se não nos lembrarmos do passado. Da mesma forma, é impossível saltar para a frente se não se der alguns passos para trás. Um dos problemas da actual civilização – da civilização da internet – é a perda do passado.”

Quem nos marcou profundamente para querermos ser bons pastores? Que memórias nos alimentam o gosto de dar a vida pelos outros? Que pastores ou mercenários estamos a criar?

 

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

O 4º Domingo da Páscoa é considerado o “Domingo do Bom Pastor”, pois todos os anos a liturgia propõe, neste domingo, um trecho do capítulo 10 do Evangelho segundo João, no qual Jesus é apresentado como “Bom Pastor”. É, portanto, este o tema central que a Palavra de Deus põe, hoje, à nossa reflexão.

  • O Evangelho apresenta Cristo como “o Pastor modelo”, que ama de forma gratuita e desinteressada as suas ovelhas, até ser capaz de dar a vida por elas. As ovelhas sabem que podem confiar n’Ele de forma incondicional, pois Ele não busca o próprio bem, mas o bem do seu rebanho. O que é decisivo para pertencer ao rebanho de Jesus é a disponibilidade para “escutar” as propostas que Ele faz e segui-l’O no caminho do amor e da entrega.
  • A primeira leitura afirma que Jesus é o único Salvador, já que “não existe debaixo do céu outro nome, dado aos homens, pelo qual possamos ser salvos” (neste “Domingo do Bom Pastor” dizer que Jesus é o “único salvador” equivale a dizer que Ele é o único pastor que nos conduz em direcção à vida verdadeira). Lucas avisa-nos para não nos deixarmos iludir por outras figuras, por outros caminhos, por outras sugestões que nos apresentam propostas falsas de salvação.
  • Na segunda leitura, o autor da primeira Carta de João convida-nos a contemplar o amor de Deus pelo homem. É porque nos ama com um “amor admirável” que Deus está apostado em levar-nos a superar a nossa condição de debilidade e de fragilidade. O objectivo de Deus é integrar-nos na sua família e tornar-nos “semelhantes” a Ele.

 

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