33º Domingo do Tempo Comum - Ano B

15-11-2015 09:22

 

"Hão-de ver o Filho do Homem vis sobre as nuvens, com garnde poder e glória." Mc 13, 26

 

 

Eis o que dizia um dos personagens do filme “Os condenados de Shawshnk", enquanto, sem ninguém saber, escavava o túnel por onde iria fugir da prisão em que se encontrava inocentemente condenado. Perante as mais desesperadas situações, torna-se difícil acreditar nisto, principalmente porque as nossas referências são sobretudo os passados “felizes”, mas, como dizia há dias o psicólogo Eduardo Sá, a propósito de adolescentes com saudades da infância, “o melhor do mundo é o futuro.” Não sei se é este dinamismo do futuro que desde cedo me fez ter o “bichinho” da ficção científica, mas encanta-me toda a expectativa de surpresa que cada momento e cada dia traz consigo.

As descrições evangélicas do fim dos tempos apontam-nos, em linguagem simbólica, um horizonte de esperança. Mesmo o tema do juízo final sublinha o encontro com a verdade de nós mesmos e a verdade de Deus, e essa já nos foi revelada por Cristo como amor. Não pretendem atemorizar-nos, mas despertar-nos para o essencial, iluminar as nossas escolhas. O futuro não é simplesmente a consequência do presente, pois há surpresas que não determinamos, mas depende muito da orientação que escolhemos. Há quem se instale num passado ideal que nunca consegue reproduzir, ou num presente acomodado e se deixa ir com o vento, ou ainda num futuro pintado de negro que produz cegueira no presente. Por isso, a esperança é a melhor aposta, mas não a podemos limitar nem impor condições. Gosto de lembrar o que dizia Charles Péguy no seu "Pórtico do mistérios da segunda virtude":" Mas a esperança, diz Deus, cá está o que me espanta./ A mim mesmo/ Isso é que é espantoso.// Que essas pobres crianças vejam como tudo isso corre

e creiam que amanhã as coisas irão melhor/ Que elas vejam as coisas correm hoje é creiam que irão melhor amanhã de manhã. E chamava-lhe" uma miudinhas de nada. (...) Só ela, levando as outras [ Fé e Caridade], é que há-de atravessar os mundos resolvidos."

Como a esperança é uma virtude, quer dizer, força e dinamismo, ela é dom de Deus e responsabilidade nossa, como é próprio de todos os dons. É importante pedi-la e exercitá-la, pois não é com exercício que se musculam os atletas e as “célulazinhas cinzentas” produzem inteligência e sabedoria? Que pena o crescimento da obesidade física e mental tão propagado por um ambiente que limita a esperança ao próximo modelo de telemóvel ou ao bilhete premiado do Euromilhões. Que esperanças vivemos e semeamos? Pois trata-se de uma sementeira este caminho de mãos dadas com a esperança. Como nos poderíamos parecer um pouco com o Barão Bodo von Bruemmer que a “Notícias Magazine” de Domingo passado nos deu a conhecer, e que aos 96 anos começou a produzir vinho e aos 104 diz: "Todos os dias compreendo coisas novas. E gosto de ficar mais velho porque aprendo mais e masi"?

Passarão o sol e a lua, a terra e os astros, mas a esperança que nos anima tem o rosto glorioso e feliz do Filho do Homem. Por isso, nada do que é belo se perderá, nada do que é bom será esquecido, nada do que é verdadeiro será apagado. A esperança vence o medo e abre-nos à surpresa, convoca o melhor que há em cada pessoa e situação, ilumina o que antes era escuro. Se acreditamos que é “uma coisa boa” o que falta para a abraçarmos mais?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum apresenta-nos, fundamentalmente, um convite à esperança. Convida-nos a confiar nesse Deus libertador, Senhor da história, que tem um projecto de vida definitiva para os homens. Ele vai – dizem os nossos textos – mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim.

  • A primeira leitura anuncia aos crentes perseguidos e desanimados a chegada iminente do tempo da intervenção libertadora de Deus para salvar o Povo fiel. É esta a esperança que deve sustentar os justos, chamados a permanecerem fiéis a Deus, apesar da perseguição e da prova. A sua constância e fidelidade serão recompensadas com a vida eterna.
  • No Evangelho, Jesus garante-nos que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do egoísmo e do pecado vai cair e que, em seu lugar, Deus vai fazer aparecer um mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. Aos seus discípulos, Jesus pede que estejam atentos aos sinais que anunciam essa nova realidade e disponíveis para acolher os projectos, os apelos e os desafios de Deus.
  • A segunda leitura lembra que Jesus veio ao mundo para concretizar o projecto de Deus no sentido de libertar o homem do pecado e de o inserir numa dinâmica de vida eterna. Com a sua vida e com o seu testemunho, Ele ensinou-nos a vencer o egoísmo e o pecado e a fazer da vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. É esse o caminho do mundo novo e da vida definitiva.