31º Domingo do Tempo Comum - Ano C

03-11-2013 09:02

 

"O Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Lc 19,10

 

Sempre me encantou este Zaqueu que subiu a uma árvore para ver Jesus. Simpatizei com ele logo que o conheci por termos em comum esta pequena estatura que continua a dar pouco jeito (especialmente quando na plateia de um cinema se vem sentar à minha frente uma “torre”, que me faz ver o filme torcido, ou tento ver um desfile de marchas de Santo António)! Invejo a sua coragem de vencer as regras da respeitabilidade para subir às àrvores, e também a alegria com que desceu para receber Jesus. Quem é autêntico não põe objecções aos pedidos de Deus, nem se gasta a dar ouvidos às vozes e às opiniões. E muitas, escandalizadas, devem ter soado, naquele percurso até à casa de Zaqueu.

 

Infelizmente uma das razões pelas quais as religiões são normalmente conhecidas é pela lista de excluídos que geram. Primeiro estabelecem-se as “fronteiras” entre os “de dentro” e os “de fora”, os limites que não podem ser ultrapassados para ter “as graças de Deus”, os sinais para reconhecer quem é pecador e quem é santo. Claro que quase sempre fundamentados em “revelações divinas”, infalíveis, que acabam por ter muito de humano, e logo falível! “E se o próprio Deus vier pôr em causa esses limites, é preciso desconfiar porque, então, não deve ser Deus!” É fácil colocar, então, um rótulo de “perdidos” a pessoas e grupos que não encaixam nos critérios que se absolutizam em nome de Deus. Que “chatice” Jesus gostar precisamente de todos os ditos “perdidos”, e não ter vergonha de ir a sua casa e comer com eles! Quem somos os “perdidos” de hoje? 

Ocorre neste domingo a memória de um santo, também ele “de pequena estatura” por ser mestiço e considerado indigno de professar na ordem dominicana em Lima, capital do Peru no final do século desasseis: S. Martinho de Porres. É o único santo representado com uma vassoura na mão (“Fray Escoba” era a sua alcunha por escolher os serviços mais insignificantes), e que, um dia, respondeu assim a um superior que queria impedi-lo de cuidar dos doentes e abandonados: “Perdoai o meu erro, e por favor me instrua-me, porque eu não sabia que o preceito da obediência se sobrepõe ao da caridade.” Como Zaqueu soube ultrapassar a sua “pequenez” pela grandeza de serviço aos mais pobres: “no serviço de Deus não há inferiores nem superiores, e é meu desejo imitar o mais possível a Nosso Senhor, que se fez servo por nós

Queremos sinais de um verdadeiro encontro com Jesus? Salva-se o que muitos diziam estar perdido, transforma-se a vida em caridade e serviço, a condenação dá lugar ao acolhimento, e a alegria promove uma festa! Os outros “encontros” que podem até ser “cerimónias e procissões”, e coisas afins de muita pompa e circnstância, poderão ser mais “desencontros”, e talvez a vassoura de S. Martinho continue com muita utilidade!

 

P. Vitor Gonçalves  

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo convida-nos a contemplar o quadro do amor de Deus. Apresenta-nos um Deus que ama todos os seus filhos sem excluir ninguém, nem sequer os pecadores, os maus, os marginais, os “impuros”; e mostra como só o amor é transformador e revivificador.

  • Na primeira leitura um “sábio” de Israel explica a “moderação” com que Deus tratou os opressores egípcios. Essa moderação explica-se por uma lógica de amor: esse Deus omnipotente, que criou tudo, ama com amor de Pai cada ser que saiu das suas mãos – mesmo os opressores, mesmo os egípcios – porque todos são seus filhos.
  • O Evangelho apresenta a história de um homem pecador, marginalizado e desprezado pelos seus concidadãos, que se encontrou com Jesus e descobriu n’Ele o rosto do Deus que ama… Convidado a sentar-se à mesa do “Reino”, esse homem egoísta e mau deixou-se transformar pelo amor de Deus e tornou-se um homem generoso, capaz de partilhar os seus bens e de se comover com a sorte dos pobres.
  • A segunda leitura faz referência ao amor de Deus, pondo em relevo o seu papel na salvação do homem (é d’Ele que parte o chamamento inicial à salvação; Ele acompanha com amor a caminhada diária do homem; Ele dá-lhe, no final da caminhada, a vida plena)… Além disso, avisa os crentes para que não se deixem manipular por fantasias de fanáticos que aparecem, por vezes, a perturbar o caminho normal do cristão.

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