30º Domingo do Tempo Comum - Ano C

27-10-2013 07:25

 

"‘Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens…” Lc 18, 11

 

Em matéria de julgamentos, a experiência mostra que é preciso muita humildade (que tem a ver com a verdade e, por isso mesmo, precisa ser procurada!). Por um lado, há o riso de exagerar as qualidades daquilo que é dos outros: “a galinha da vizinha é melhor que a minha”, “o que vem de fora é que é bom”, ou até se elogiam “os maridos da outras” como bem cantado foi por Miguel Araújo. Por outro, há o perigo (de que o fariseu deste evangelho é exemplo) de exagerar virtudes próprias, construíndo auréolas brilhantes, espalhando imagem e “glamour” salpicada de água benta, para se colocar em pedestais, bem acima dos outros, num mundo à parte. E quando toca a misturar a tentação de julgar os outros com a presunção de “defender Deus e a santa religião” o equívoco pode ser ainda maior.

Grande escândalo o de Jesus, em apresentar como modelos da vida da graça as prostitutas, os publicanos, os samaritanos e até as crianças! Que exemplos de ordem e de lei podemos apresentar aos mais novos? Como respeitarão um Deus que parece não castigar os infratores nem recompensar os cumpridores (sabe Deus o esforço de “não ser como os outros”!)? Esta surpresa do Pai que Jesus revela nunca se esgotará para nós. Porque não é a “rama”, aquilo que somos exteriormente, que importa. O que é mesmo importante é o que somos por dentro, é o fundo de nós mesmos onde olhamos Deus face a face ou nos olhamos simplesmente ao espelho. É aí que pode haver encontro que liberta e salva ou auto-justificação que nos fecha ainda mais numa redoma. Na parábola do fariseu e do publicano, mais do que os actos bons ou menos bons, religiosos ou não, o que importa é o interior de cada um. O fariseu veio apresentar os seus créditos e esperar a recompensa, tratou Deus como um patrão e ficou na mesma; o publicano veio de mãos vazias, tratou Deus como alguém que se ama, pediu perdão, e regressou com caminhos novos para percorrer.

Quando Deus se revela mais salvador do que castigador o medo é vencido pela esperança, e a aparência pela verdade. Ficam no desemprego os especialistas em julgar a parte pelo todo, e os “diáconos Remédios” da moralidade (que pena ter ficado associado a esta genial caricatura um grau do sacramento da Ordem tão belo e cujo nome significa “servidor”). Jesus não teve problemas em ser identificado com os “outros”, “Nazareno”, e até chamado “comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores” (Lc 7, 34). Porque Ele é o “Deus connosco” e nada do que somos O escandaliza. Jesus sabe bem que, no fundo, somos filhos amados de Deus. E tudo o que impede essa descoberta é que é importante fazer desaparecer!

Pe. Vitor Gonçalves

in A Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo ensina-nos que Deus tem um “fraco” pelos humildes e pelos pobres, pelos marginalizados; e que são estes, no seu despojamento, na sua humildade, na sua finitude (e até no seu pecado), que estão mais perto da salvação, pois são os mais disponíveis para acolher o dom de Deus.

  • A primeira leitura define Deus como um “juiz justo”, que não se deixa subornar pelas ofertas desses poderosos que praticam injustiças na comunidade; em contrapartida, esse Deus justo ama os humildes e escuta as suas súplicas.

  • O Evangelho define a atitude correcta que o crente deve assumir diante de Deus. Recusa a atitude dos orgulhosos e auto-suficientes, convencidos de que a salvação é o resultado natural dos seus méritos; e propõe a atitude humilde de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a acolher o dom de Deus. É essa atitude de “pobre” que Lucas propõe aos crentes do seu tempo e de todos os tempos.

  • Na segunda leitura, temos um convite a viver o caminho cristão com entusiasmo, com entrega, com ânimo – a exemplo de Paulo. A leitura foge, um pouco, ao tema geral deste domingo; contudo, podemos dizer que Paulo foi um bom exemplo dessa atitude que o Evangelho propõe: ele confiou, não nos seus méritos, mas na misericórdia de Deus, que justifica e salva todos os homens que a acolhem.

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