30º Domingo do Tempo Comum - Ano B

25-10-2015 08:28

 

 

" «Mestre, que eu veja». Jesus disse-lhe: «Vai: a tua fé te salvou».” Mc 10, 51

 

Perante alguém cego fico, inevitavelmente, mudo! E seria mais fácil procurar palavras para analisar as muitas “cegueiras espirituais” de que sofremos, reafirmar que “não queremos ver” para não nos comprometermos, e deleitar-me com a coragem do cego de Jericó (que até conhecemos pelo nome, Bartimeu, e não é “mais um cego”!) a gritar por Jesus e depois a segui-l’O! Podia ficar por aí, mas uma reportagem televisiva sobre cães-guias de cegos, numa “Grande Tarde” da SIC há alguns dias, trouxe-me uma luz para partilhar!

Não sei como é nascer sem poder ver, e só consigo imaginar a dor de ir perdendo a visão, por doença, acidente ou idade. Dizem que se aguçam os outros sentidos, e quero acreditar que sim, mas deixar de ver só pode trazer uma dor imensa! Que bom S. João ter escrito que, um dia, veremos Deus, “tal como Ele é” (cf. 1 Jo 3, 2)! Mas na coragem de caminhar num mundo sem cores nem formas, fiquei desperto para a ajuda admirável que os cães-guia podem ser para os cegos. É admirável o esforço dispendido pela única instituição do país, a “Associação Beira Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual” que cria e educa estes preciosos auxiliares. Que afectos nascem entre os cães, as famílias de acolhimento, os treinadores e, por fim, os seus donos e amigos! Não nego que me emocionei, e quase “rasei” a heresia em imaginar estes cães como uma analogia do Espírito Santo, sempre tão empenhado em guiar-nos e defender-nos. E, perante os muitos custos para “formar” um “cão-guia”, no nosso país em que a venda de “Porsches” este ano bateu todos os recordes, não seria possível empresas ou particulares, darmos (principalmente com discrição, que faz mais bela a partilha!) um pouco, ou muito, do nosso excesso (e nos cega!) para que outros “vejam”?!

Na verdade sempre volto à questão das cegueiras que nos afectam. Cegueira dos outros quando deixamos de os ver e amar (quantos pais e avós abandonados em lares sem uma visita carinhosa!); cegueira do trabalho quando lhe sacrificamos a saúde ou somos explorados; cegueira do dinheiro que compra quase tudo, menos a amizade e a felicidade; cegueira da moda e da novidade que se gasta tão depressa; cegueira do poder e do domínio que acaba por endurecer o coração; cegueira das paixões a quem sacrificamos os valores; e também a da preguiça, do egoísmo, dos papéis que representamos!

Bartimeu era cego, estava sentado, à beira do caminho. Tudo apontava para um destino irremediavelmente escrito: prisioneiro das trevas, à beira da vida, esperando uma migalha para ir vivendo. A coragem dos seus gritos mostra um desejo e uma esperança. O chamamento de Jesus revela forças escondidas, para deixar a capa, dar um salto e ir ter com Ele. Tudo pode mudar no encontro com Jesus: é urgente deixar o que aprisionava a fé, e superar o medo com o impensável salto. Não é disto que muitos de nós precisamos? Queremos “ver para crer” mas a fé é que leva à visão verdadeira, é ela que salva. Quase como a confiança de um cego no seu “cão-guia”, que lhe lhe valoriza todas as outras capacidades! Que capas nos prendem, e que “beiras de caminhos” nos acomodam? Ouvimos Jesus passar?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia do 30° Domingo do Tempo Comum fala-nos da preocupação de Deus em que o homem alcance a vida verdadeira e aponta o caminho que é preciso seguir para atingir essa meta. De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, o homem chega à vida plena, aderindo a Jesus e acolhendo a proposta de salvação que Ele nos veio apresentar. 

  • A primeira leitura afirma que, mesmo nos momentos mais dramáticos da caminhada histórica de Israel, quando o Povo parecia privado definitivamente de luz e de liberdade, Deus estava lá, preocupando-se em libertar o seu Povo e em conduzi-lo pela mão, com amor de pai, ao encontro da liberdade e da vida plena. 
  • A segunda leitura apresenta Jesus como o sumo-sacerdote que o Pai chamou e enviou ao mundo a fim de conduzir os homens à comunhão com Deus. Com esta apresentação, o autor deste texto sugere, antes de mais, o amor de Deus pelo seu Povo; e, em segundo lugar, pede aos crentes que "acreditem" em Jesus - isto é, que escutem atentamente as propostas que Ele veio fazer, que as acolham no coração e que as transformem em gestos concretos de vida. 
  • No Evangelho, o catequista Marcos propõe-nos o caminho de Deus para libertar o homem das trevas e para o fazer nascer para a luz. Como Bartimeu, o cego, os crentes são convidados a acolher a proposta que Jesus lhes veio trazer, a deixar decididamente a vida velha e a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Dessa forma, garante-nos Marcos, poderemos passar da escravidão à liberdade, da morte à vida.

portugal@dehonianos.org : www.dehonianos.org