3º Domingo do Tempo Comum - Ano B

21-01-2018 08:47

 

 

“Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho.” Mc 1, 14

 

Há quase um ano os estudantes do nosso país, a propósito do drama dos refugiados, foram convidados a pensar no que levariam numa mochila se tivessem de partir de repente por causa da guerra. Em acidentes ou desastres inesperados percebemos que o mais importante são as pessoas que amamos (não as coisas ou o que chamamos “bens”) e, se é possível, são para elas as últimas palavras. No exercício do professor que ia colocando pedras maiores, outras mais pequenas, gravilha, areia e por fim água, para encher um frasco, os alunos aprenderam que se não se coloca em primeiro lugar no tempo que nos é dado o que é essencial, depois “já não cabe”!

S. Marcos, considerado nos estudos bíblicos, o primeiro a escrever o evangelho, “a Boa notícia”, de Jesus, dá-nos hoje as suas primeiras palavras, como um programa. Estamos habituados que assim seja no início de um curso de estudos, de uma vitória política, de uma nova presidência de qualquer organismo. O programa de Jesus é o Evangelho de Deus. É o tempo novo e a chegada do Reino, que não é um território, com fronteiras ou alfândegas, e também não é nenhum poder material ou violento. Não é fruto de conquistas humanas, mas dom generoso e abundante de Deus, para todos, em todos os tempos, e em todos os lugares. É o melhor dom acompanhado de um radical convite: convertei-vos e acreditai no Evangelho. Converter, a “metanoia” grega, não é tanto arrependimento, penitência ou tristeza pelos erros. É mudança de rumo, de horizonte, e de mentalidade. Reclama atitudes novas e criadoras, vida em vez de mortes antecipadas. E unida ao “acreditar no Evangelho”, projecta-nos para a confiança nas boas notícias que vêm de Deus, para Jesus que faz novas todas as coisas, para o essencial que será sempre surpreendente.

Encontramos o convite à conversão em muitas propostas de vida: mudança de hábitos alimentares, atenção ao desperdício e ao excesso de consumo, domínio sobre apetites supérfluos, vigilância sobre as dependências, valorização do exercício físico e práticas saudáveis. Têm em comum valores de saúde física e espiritual significativos. Que outras possibilidades de conversão poderíamos descobrir nos nossos hábitos e rotinas? Que conversão nas relações familiares e de vizinhança? Que conversão na educação dos filhos (sem que sejam precisas “super-nannys” para substituir pais)? O que há a converter nas dependências eletrónicas e virtuais? E no trabalho, na justiça, no uso do tempo e dos dons que todos têm? Haverá algum campo humano sem necessidade de conversão?

Claro que a conversão que Jesus pede vai ao fundamental do sentido da vida. E ele não passa por tantos pequenos “essenciais” que até parecem acessórios?

 

Padre Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia do 3º Domingo do Tempo Comum propõe-nos a continuação da reflexão iniciada no passado domingo. Recorda, uma vez mais, que Deus ama cada homem e cada mulher e chama-o à vida plena e verdadeira. A resposta do homem ao chamamento de Deus passa por um caminho de conversão pessoal e de identificação com Jesus.

  • A primeira leitura diz-nos – através da história do envio do profeta Jonas a pregar a conversão aos habitantes de Nínive – que Deus ama todos os homens e a todos chama à salvação. A disponibilidade dos ninivitas em escutar os apelos de Deus e em percorrer um caminho imediato de conversão constitui um modelo de resposta adequada ao chamamento de Deus.
  • No Evangelho aparece o convite que Jesus faz a todos os homens para se tornarem seus discípulos e para integrarem a sua comunidade. Marcos avisa, contudo, que a entrada para a comunidade do Reino pressupõe um caminho de “conversão” e de adesão a Jesus e ao Evangelho.
  • A segunda leitura convida o cristão a ter consciência de que “o tempo é breve” – isto é, que as realidades e valores deste mundo são passageiros e não devem ser absolutizados. Deus convida cada cristão, em marcha pela história, a viver de olhos postos no mundo futuro – quer dizer, a dar prioridade aos valores eternos, a converter-se aos valores do “Reino”.

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