3º Domingo da Quaresma - Ano C

28-02-2016 09:33

 

 

"Deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos”. Lc 13, 8-9

 

 

Perante qualquer mal procuramos sempre uma causa e, se possível, um culpado. Muitas vezes gastamos demasiadas energias nessa procura, quase deixando de lado o cuidado de quem sofre, o reerguer daquilo que foi destruído. Ficamos mais presos ao “quem” e ao “porquê” do que ao “para quê” e “para onde”! Não há respostas fáceis para o doloroso mistério do mal e para o sofrimento. E a procura de um culpado para o condenar em vez de o querer salvar leva-nos a imensos becos sem saída. Assim escrevia o P. Peter Stilwell numa feliz distinção entre Sherlock Holmes e o P. Brown, como estes heróis “policiais” procuravam a verdade e o culpado, o primeiro para que ele fosse condenado, o segundo para lhe dar hipóteses de salvação. Claro que o assumir da culpa e a regeneração nem sempre se concretizam, e é dever da sociedade criar condições para que o mal não volte a repetir-se, mas o caminho não pode ser a destruição do malvado. Não foi por acaso que o Papa Francisco pediu, há dias, que neste Ano da Misericórdia fosse suspensa a pena de morte nos países que a praticam!

Jesus não trouxe explicações para o mal. Procurou libertar-nos da imagem de um Deus castigador e impassível, desejoso de sangue como caminho purificador dos pecados, manipulador de acontecimentos terríveis para dominar os homens pelo medo e pela culpa. Valorizou o dom da liberdade humana e a responsabilidade das nossas escolhas, e pediu que não nos tornássemos juízes dos irmãos, pois a vitória sobre o mal só é possível pelo perdão e pelo amor. Por isso, alimentar a culpa pessoal, ou aquela que atribuímos a Deus, é desperdício de vida e enredamento na morte, obstáculo para uma verdadeira conversão e mudança que transforma as feridas em cicatrizes, as derrotas em vitórias, o desânimo em esperança. A especialização de Deus é a esperança: o pequeno rebento que surge depois do incêndio, as mãos que se entreajudam depois do terramoto, o abraço que alenta na morte de um ente querido, a pequena luz que surge dentro de nós quando alguém recolheu a dor que nos habitava. Perante o mal inevitável é preciso pedir e acolher a força e a presença de Deus que se fez Deus connosco; contra o mal evitável, é urgente utilizar toda a inteligência, sabedoria e grandeza de coração que possamos dar para que não aconteça!

Dizemos muitas vezes “paciência!” como se desistíssemos. Mas a paciência é também uma virtude activa, é a “água mole em pedra dura”, a coragem de perseverar, o amor que não “desaguenta”. Por isso a conversão não é só um esforço individual, com o perigo de transformar-se numa ascese perfecionista que nos fecharia à alegria e generosidade de partilhar os frutos, mas também o cuidado amoroso do vinhateiro, que “cava e aduba” a figueira (que é cada um de nós) para que dê frutos saborosos. Vencer o mal e cuidar de quem sofre é o trabalho arriscado de nos darmos mais abundantemente, de não nos fecharmos em desculpas estéreis ou mortes antecipadas, de salvar o que parecia perdido. “Tudo o que arriscas, sempre se multiplica” está escrito numa folha dada aos peregrinos de Santiago, no acolhimento de Arudy, nos Pirinéus franceses. Como se Deus no-lo dissesse ao coração!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

Nesta terceira etapa da caminhada para a Páscoa somos chamados, mais uma vez, a repensar a nossa existência. O tema fundamental da liturgia de hoje é a “conversão”. Com este tema enlaça-se o da “libertação”: o Deus libertador propõe-nos a transformação em homens novos, livres da escravidão do egoísmo e do pecado, para que em nós se manifeste a vida em plenitude, a vida de Deus.

  • O Evangelho contém um convite a uma transformação radical da existência, a uma mudança de mentalidade, a um recentrar a vida de forma que Deus e os seus valores passem a ser a nossa prioridade fundamental. Se isso não acontecer, diz Jesus, a nossa vida será cada vez mais controlada pelo egoísmo que leva à morte.
  • A segunda leitura avisa-nos que o cumprimento de ritos externos e vazios não é importante; o que é importante é a adesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar a sua proposta de salvação e de viver com Ele numa comunhão íntima.
  • A primeira leitura fala-nos do Deus que não suporta as injustiças e as arbitrariedades e que está sempre presente naqueles que lutam pela libertação. É esse Deus libertador que exige de nós uma luta permanente contra tudo aquilo que nos escraviza e que impede a manifestação da vida plena.

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