29º Domingo do Tempo Comum - Ano C

16-10-2016 09:11

 

“...porque esta viúva me importuna, vou fazer-lhe justiça,
para que não venha incomodar-me indefinidamente.”
Lc 18, 5

 

Quando se tem razão, nunca desistir!” Esta é uma das frases dita por alguns amigos meus que são verdadeiros “campeões” na arte de reclamar. Até já sugeri que pusessem ao serviço de quem não sabe ou habitualmente não reclama, esses dons argumentativos e persistentes. Quantas caixas de correio, especialmente dos serviços públicos mas não só, estão cheios dos seus justos protestos e interpelações, sempre no desejo de uma justiça que, às vezes não é cega mas quase sempre é muito lenta?!

A insistência da viúva junto de um juiz iníquo, numa reedição da tão antiga “luta entre David e Golias”, e as mãos levantadas de Moisés que conduzem Josué e o seu pequeno exército à vitória, são convite para não desistir da oração e da luta quando se reclama justiça. Quase se apresenta a oração como luta, com estratégia e insistência, alicerçada na certeza de estar a pedir o que é justo. E a batalha, que cansa e desgasta, também pode beneficiar de um bom assento e dois pedregulhos que mantenham as mãos de Moisés levantadas. Sabemos, que, muitas vezes, a justiça é atropelada pelos ricos que a compram ou pelos poderosos que a atrasam, mas há uma última palavra que só pertence a Deus, e é Ele que promete a quem clama e sofre “que lhes fará justiça bem depressa”. Deus faz justiça na Páscoa de Jesus e na vida transformada daqueles que d’Ele vivemos. Por isso, a justiça é dom de Deus e reclama o compromisso de a levar a todo o mundo, a todas as realidades humanas, a todos os sofrimentos evitáveis, a todas as periferias e corações. Escutamos melhor Deus quando escutamos todos os que sofrem injustamente e clamam: “Façam-nos justiça”!

Entre os novos cardeais que o Papa Francisco escolheu para o Colégio Cardinalício, e que serão investidos nessa missão a 19 de novembro próximo, está um padre albanês, Ernest Simoni, de 88 anos de idade, que passou 28 anos na prisão durante a perseguição comunista na Albânia. Quando se encontrou com ele, na visita à Albânia em 2014, Francisco chorou ao abraçá-lo. Durante o seu tempo de prisão, torturas e trabalhos forçados, o P. Simoni celebrou missa e rezou “de cor” (sem livros nenhuns), pronunciando sempre palavras de perdão para os seus algozes. Questionado sobre a sua resistência, sorriu ao responder: “Mas eu nada fiz de extraordinário: sempre rezei a Jesus, sempre falei de Jesus.” Esta é a oração que não desfalece, a luta pela justiça que não é desejo de destruir quem faz o mal, mas desejo que o bem possa vencer.

Há alguns anos um anúncio publicitário de pilhas insistia num refrão que se tornou conhecido: “E dura...e dura...e dura...!” É assim a perseverança na oração e na justiça que ela reclama, que Jesus convida a praticar. Se nos importa verdadeiramente a felicidade dos outros, mais do que o nosso êxito pessoal, não os abandonaremos facilmente. Por isso é preciso rever as motivações e as metas que guiam os nossos projectos: que justiça pedimos e por que justiça vivemos?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A Palavra que a liturgia de hoje nos apresenta convida-nos a manter com Deus uma relação estreita, uma comunhão íntima, um diálogo insistente: só dessa forma será possível ao crente aceitar os projectos de Deus, compreender os seus silêncios, respeitar os seus ritmos, acreditar no seu amor.

  • O Evangelho sugere que Deus não está ausente nem fica insensível diante do sofrimento do seu Povo… Os crentes devem descobrir que Deus os ama e que tem um projecto de salvação para todos os homens; e essa descoberta só se pode fazer através da oração, de um diálogo contínuo e perseverante com Deus.
  • A primeira leitura dá a entender que Deus intervém no mundo e salva o seu Povo servindo-Se, muitas vezes, da acção do homem; mas, para que o homem possa ganhar as duras batalhas da existência, ele tem que contar com a ajuda e a força de Deus… Ora, essa ajuda e essa força brotam da oração, do diálogo com Deus.
  • A segunda leitura, sem se referir directamente ao tema da relação do crente com Deus, apresenta uma outra fonte privilegiada de encontro entre Deus e o homem: a Escritura Sagrada… Sendo a Palavra com que Deus indica aos homens o caminho da vida plena, ela deve assumir um lugar preponderante na experiência cristã.
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