27º Domingo do Tempo Comum - Ano A

08-10-2017 09:21

 

 

"A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular.” Mt 21, 42

 

O tempo quente e seco deste verão antecipou as vindimas. Mas na liturgia, voltamos ainda ao tema da vinha e dos seus frutos, numa belíssima parábola em que Jesus sintetiza a história do povo bíblico. De facto, esta parábola, chamada habitualmente “dos vinhateiros homicidas”, conta em sete versículos, o passado e o futuro da história da salvação. 

A vinha é o povo de Israel, o proprietário é o Senhor que o rodeou de cuidados, a sebe é a Lei que defende e convida a uma vida segundo a justiça de Deus, a torre é a autoridade de quem vigia e unifica, os vinhateiros são os chefes religiosos de Israel, os servos enviados são os profetas rejeitados, o filho é Jesus, de quem é anunciada a paixão e morte. Há um contraste imenso entre o carinho com que Deus plantou e cuidou da vinha, e a dureza de coração dos que não querem entregar os frutos, chegando mesmo a fazer tudo para se apossarem do que não era seu. Será uma parábola apenas para os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo, num contexto religioso, ou é para todos nós, que na ânsia de dominar e na ganância de possuir esquecemos a condição de administradores?

Anunciando explicitamente a sua Páscoa, Jesus termina a parábola com uma pergunta: “Quando vier o dono da vinha, que fará àqueles vinhateiros?” (v. 40). Pela própria boca os chefes religiosos se condenam. Mas não há vingança nem morte na sentença de Jesus. Pelo contrário, é anunciada a surpresa de uma esperança: a vinha que é a vida e tudo o que pode dar frutos será entregue a “um povo que produza os seus frutos” (v. 43). Já não a uns vinhateiros, representantes daqueles que se esquecem de que todo o poder é serviço, e mais do que buscar interesses privados, o que verdadeiramente importa é dar bons frutos. E dar significa entregar, partilhar, distribuir, fazer chegar a todos, e não acumular ou guardar! 

Mas Jesus fala também de uma “pedra rejeitada” tornada “pedra angular”. Conhecemos o seu apreço por todos os que eram (e são) rejeitados. De facto, é muito fácil rejeitar, rotular, excluir, separar, excomungar. Basta pegar numa falha de alguém ou num preconceito, e “enfiar essa veste da cabeças aos pés” numa pessoa. A partir daí desistimos dela e ficamos contentes por estarmos bem com os “nossos”! Mas não somos todos de Deus? Quantas surpresas gosta Deus de realizar com os últimos e os esquecidos?! Jesus assumiu a rejeição: esmagado e crucificado, fora da vinha, de braços abertos na cruz. Ele é a pedra angular desta nova vinha, onde todos podemos dar frutos saborosos, em todos os tempos e lugares. Frutos que São Paulo lembra aos Filipenses: “tudo o que é verdadeiro e nobre, tudo o que é justo e puro, tudo o que é amável e de boa reputação, tudo o que é virtude e digno de louvor”. São estes frutos que partilhamos em casa, no trabalho, na igreja, com amigos, nas associações, como cidadãos?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia do 27º Domingo do Tempo Comum utiliza a imagem da “vinha de Deus” para falar desse Povo que aceita o desafio do amor de Deus e que se coloca ao serviço de Deus. Desse Povo, Deus exige frutos de amor, de paz, de justiça, de bondade e de misericórdia.

  • Na primeira leitura, o profeta Isaías dá conta do amor e da solicitude de Deus pela sua “vinha”. Esse amor e essa solicitude não podem, no entanto, ter como contrapartida frutos de egoísmo e de injustiça… O Povo de Jahwéh tem de deixar-se transformar pelo amor sempre fiel de Deus e produzir os frutos bons que Deus aprecia – a justiça, o direito, o respeito pelos mandamentos, a fidelidade à Aliança.
  • No Evangelho, Jesus retoma a imagem da “vinha”. Critica fortemente os líderes judaicos que se apropriaram em benefício próprio da “vinha de Deus” e que se recusaram sempre a oferecer a Deus os frutos que Lhe eram devidos. Jesus anuncia que a “vinha” vai ser-lhes retirada e vai ser confiada a trabalhadores que produzam e que entreguem a Deus os frutos que Ele espera.
  • Na segunda leitura, Paulo exorta os cristãos da cidade grega de Filipos – e todos os que fazem parte da “vinha de Deus” – a viverem na alegria e na serenidade, respeitando o que é verdadeiro, nobre, justo e digno. São esses os frutos que Deus espera da sua “vinha”.
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