26º Domingo do Tempo Comum Ano A

01-10-2017 09:25

 

"Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus.” Mt 21, 31

 

 

Por uma curiosa coincidência escutamos a parábola dos dois filhos a quem o pai pede para irem trabalhar para a vinha, em dia de eleições autárquicas no nosso país. Coincidência, pois a escolha livre dos autarcas corresponde à nossa confiança nas suas palavras, assim como o pai confiou nas respostas dos filhos. Promessas, projetos, cartazes e comícios: eis o material que servirá para avaliar o que os eleitos realizarão pois, como diz o povo, “pela boca morre o peixe”! E, na proximidade entre eleitores e elegíveis, a coerência entre o dizer e o fazer é uma exigência que estará sempre presente.

Do dizer ao fazer vai um caminho difícil. Porque todo o “sim” implica um ou vários “nãos”. E quanto mais importante é o “sim”, maiores serão os obstáculos a enfrentar. Mas aprendemos também com os erros ou más escolhas, e é possível mudar. Assim nos relata a parábola em que os dois filhos não fizeram o que tinham dito ao pai. O que disse “não” acabou por ir para a vinha e o que disse “sim” não pôs lá os pés.

A parábola começa por ser desconcertante para os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo: se aquele pai era Deus, porquê falar de dois filhos, se o único filho de Deus é Israel, o seu povo eleito e fiel? Mas a provocação continua, pois, Jesus irá identificar Israel com o filho que disse “sim” e fez “não”! E o choque é ainda maior quando diz que os pecadores e as prostitutas irão à sua frente para o reino de Deus! A religião de palavras, ritos e sacrifícios tornara-se uma espécie de capa ou verniz que convencia os mais religiosos de estarem bem com Deus. Exaltavam os seus méritos e caiam na armadilha da comparação em julgarem-se melhores que os outros. Mas toda essa religiosidade não produzia frutos. Jesus encontra nos excluídos e nos últimos aqueles que realizam a vontade do Pai, que acolhem o Filho e mudam de vida. Não era Mateus um desses cobrador de impostos que tudo deixou para seguir Jesus?

Seria grande a tentação de imaginarmos que os cristãos seriam um “terceiro filho”, sempre coerente a dizer “sim” e a dar os frutos correspondentes. Ao olharmos para a história e para a realidade que vivemos, percebemos que não é assim. O terceiro filho é, de facto, Jesus, o pleno “sim” de Deus aos homens e dos homens a Deus! Em nós talvez coexistam os dois irmãos, e o nosso crescimento é feito da aprendizagem com os erros, e da coragem em mudar. Para que cada vez mais as palavras anunciem as ações, e aquilo que dizemos seja o que, verdadeiramente, queremos fazer!

Pe. Vitor Gonçales

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum deixa claro que Deus chama todos os homens e mulheres a empenhar-se na construção desse mundo novo de justiça e de paz que Deus sonhou e que quer propor a todos os homens. Diante da proposta de Deus, nós podemos assumir duas atitudes: ou dizer “sim” a Deus e colaborar com Ele, ou escolher caminhos de egoísmo, de comodismo, de isolamento e demitirmo-nos do compromisso que Deus nos pede. A Palavra de Deus exorta-nos a um compromisso sério e coerente com Deus – um compromisso que signifique um empenho real e exigente na construção de um mundo novo, de justiça, de fraternidade, de paz.

  • Na primeira leitura, o profeta Ezequiel convida os israelitas exilados na Babilónia a comprometerem-se de forma séria e consequente com Deus, sem rodeios, sem evasivas, sem subterfúgios. Cada crente deve tomar consciência das consequências do seu compromisso com Deus e viver, com coerência, as implicações práticas da sua adesão a Jahwéh e à Aliança.
  • O Evangelho diz como se concretiza o compromisso do crente com Deus… O “sim” que Deus nos pede não é uma declaração teórica de boas intenções, sem implicações práticas; mas é um compromisso firme, coerente, sério e exigente com o Reino, com os seus valores, com o seguimento de Jesus Cristo. O verdadeiro crente não é aquele que “dá boa impressão”, que finge respeitar as regras e que tem um comportamento irrepreensível do ponto de vista das convenções sociais; mas é aquele que cumpre na realidade da vida a vontade de Deus.
  • A segunda leitura apresenta aos cristãos de Filipos (e aos cristãos de todos os tempos e lugares) o exemplo de Cristo: apesar de ser Filho de Deus, Cristo não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas assumiu a realidade da fragilidade humana, fazendo-se servidor dos homens para nos ensinar a suprema lição do amor, do serviço, da entrega total da vida por amor. Os cristãos são chamados por Deus a seguir Jesus e a viver do mesmo jeito, na entrega total ao Pai e aos seus projectos.
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