24º Domingo do Tempo Comum - Ano C

11-09-2016 09:23

 

“Tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida (...)” Lc 15, 32

 

 

Podia estar escrito à porta de um laboratório. E também de uma sala de aulas. E está certamente “escrito” às portas da vida, este espaço e tempo de constante aprendizagem. Assim, como a escrevo, esta frase faz parte da entrevista da Visão a Jorge Rio Cardoso, economista e professor universitário. É uma leitura que faria bem a muitos pais, desejosos de que os filhos sejam “bons alunos”, talvez demasiado focados no rendimento: “Passamos o tempo a dizer à criança, ‘cala-te, não digas disparates’. Ela cresce, vai trabalhar e quando lhe pedem para fazer brainstorming bloqueia, porque reprimiu a sua imaginação. (...) Os adultos devem preocupar-se menos com o Ter e ensinar a criança a Ser.”

As parábolas de Jesus mostram-nos muitas pessoas que erraram: o publicano, o juiz iníquo, o administrador desonesto, o filho que não quis ir trabalhar para a vinha, o filho que desbarata a fortuna do pai e o que se considera injustiçado quando o pai perdoa ao primeiro. Nas parábolas da misericórdia do capítulo 15 de S. Lucas os heróis são pessoas simples. Um pastor que conhece o seu rebanho, uma mulher preocupada com a economia do lar, e um pai que não desiste dos seus filhos. A alegria é o desfecho das três narrativas, ficando em aberto a decisão do irmão mais velho entrar na festa ou não. Vale sempre a pena perguntar: se eu fosse este irmão iria também para a festa?

Deus é “pastor, mulher e pai” que não desiste de procurar e de esperar. Está em movimento constante de saída, para encontrar, trazer aos ombros, abraçar, renovar a dignidade perdida, fazer festa com todos. Não é isso o amor? O amor primeiro e incondicional, muito além do que o entendimento humano é capaz de abarcar? Mas também sabe esperar, dar o tempo e o espaço para a conversão sincera, deixar que a memória do amor recebido seja mais forte que a culpa e o erro, aprender como o caminho de regresso é um futuro novo. Reconhecer-se pecador perdoado nasce de um coração ferido e humilde, capaz de se abrir ao “amor que não julga” de Deus.    

Aquele que se julgava tão cumpridor e “certinho” acaba por “desafinar”, ao não aceitar o perdão que o pai deu ao irmão mais novo. Continuamos à espera da sua entrada na festa! Mas, “desafinar” rima com o magnífico filme “Florence”, sobre Florence Foster-Jenkins, uma cantora norte-americana “desafinadíssima”, soberbamente interpretada por Meryl Streep. Não é fácil entender todo o amor que dimanava da sua vida e da dos que a rodeavam, pois, como cantava João Gilberto, “no peito dos desafinados / Também bate um coração.” O seu amor à música e às artes exprime-se nas suas palavras: “Poderão dizer que cantava muito mal, mas não poderão dizer que não cantei!”. Perdoem-me, mas creio que Deus ama muito os desafinados. E infelizes os que, por medo de errar, nunca tentam!

 
P. Vítor Gonçalves
in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo centra a nossa reflexão na lógica do amor de Deus. Sugere que Deus ama o homem, infinita e incondicionalmente; e que nem o pecado nos afasta desse amor…

  • A primeira leitura apresenta-nos a atitude misericordiosa de Jahwéh face à infidelidade do Povo. Neste episódio – situado no Sinai, no espaço geográfico da aliança – Deus assume uma atitude que se vai repetir vezes sem conta ao longo da história da salvação: deixa que o amor se sobreponha à vontade de punir o pecador.
  • Na segunda leitura, Paulo recorda algo que nunca deixou de o espantar: o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Esse amor derrama-se incondicionalmente sobre os pecadores, transforma-os e torna-os pessoas novas. Paulo é um exemplo concreto dessa lógica de Deus; por isso, não deixará de testemunhar o amor de Deus e de Lhe agradecer.
  • O Evangelho apresenta-nos o Deus que ama todos os homens e que, de forma especial, Se preocupa com os pecadores, com os excluídos, com os marginalizados. A parábola do “filho pródigo”, em especial, apresenta Deus como um pai que espera ansiosamente o regresso do filho rebelde, que o abraça quando o avista, que o faz reentrar em sua casa e que faz uma grande festa para celebrar o reencontro.

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