23º Domingo do Tempo Comum - Ano A

10-09-2017 09:44

 

"Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.” Mt 18, 20

 

 

No livro do Génesis há duas perguntas que Deus faz, a primeira a Adão e a segunda a Caim, que, segundo um amigo meu, sintetizam o que Deus pergunta a cada um de nós: “Onde estás?” e, “Onde está o teu irmão?”. É simples, mas gosto de pensar nelas. A primeira aponta para o desejo de Deus em “vir passear connosco” no jardim que é o mundo, e também a nossa vida. A segunda, com um suave peso de acusação, interpela à responsabilidade pelo outro, o irmão que Caim acabou de matar, e de como se fica incompleto sem ele. Deus não se cansará de nos procurar, nem de nos convidar à comunhão com os outros. É Pai que gosta de ver os filhos unidos.

Corrigir, falar abertamente sobre os erros, perdoar, digam lá se não são temas difíceis nas nossas relações? Quantos sofrimentos se prolongam porque não se fez ou não se aceitou uma correção fraterna? Na verdade, fraterna é a palavra chave, que muitas vezes falta, no conteúdo e no modo do que se diz a alguém. Usamos a “verdade” como estandarte e pensamos que ela é o valor absoluto. E em nome dela a difamação gera marginalização, humilhação, sofrimento inútil. A verdade que não produz amor pode destruir mais do que reconstruir. E não há crescimento sem amor que corrige, que levanta, que descobre novos caminhos, que aprende com os erros.

Jesus propõe uma pedagogia para a vida em comunidade. Mostra que corrigir e perdoar é um caminho, com passos a dar, para salvar quem erra e nunca desistir do outro. O capítulo 18 do Evangelho de Mateus tinha começado com a discussão inútil sobre quem “era o maior no Reino dos Céus”. A humildade, proposta por Jesus, não significa ficar à espera que o ofensor venha pedir desculpa; impele a dar o primeiro passo, sem soberba nem superioridade, privilegiando o outro e não a ofensa. Há quem acumule ofensas como troféus, como que justificando uma vida sem amor! Os passos seguintes, caso o primeiro não tenha sido suficiente, baseiam-se sempre na fraternidade e não em julgamentos públicos. E, ainda que nenhum resulte, tratar o outro como “um pagão ou um publicano” não é excluí-lo do coração nem da vida, mas aprender com Jesus, que se fez próximo e companheiro de pagãos e publicanos. Mais forte que as ofensas é a lógica explosiva do amor e do perdão! É assim que podemos perceber que Jesus está no meio de nós! 

 

No recente atentado terrorista em Barcelona, uma frase e uma foto impressionaram-me deveras. Na fotografia vê-se o abraço comovido dos pais do pequeno Xavi, o menino morto nas Ramblas, com o íman muçulmano de Rubí, concretizando que o pai do menino tinha dito antes: “Necessito abraçar um muçulmano”! Mais do que a verdade das ofensas não importa o amor que Deus nos dá para nos abraçarmos?

Padre Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo sugere-nos uma reflexão sobre a nossa responsabilidade face aos irmãos que nos rodeiam. Afirma, claramente, que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos responsáveis uns pelos outros.

  • A primeira leitura fala-nos do profeta como uma “sentinela”, que Deus colocou a vigiar a cidade dos homens. Atento aos projectos de Deus e à realidade do mundo, o profeta apercebe-se daquilo que está a subverter os planos de Deus e a impedir a felicidade dos homens. Como sentinela responsável alerta, então, a comunidade para os perigos que a ameaçam.
  • O Evangelho deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correcto para atingir esse objectivo não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do amor.
  • Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Roma (e de todos os lugares e tempos) a colocar no centro da existência cristã o mandamento do amor. Trata-se de uma “dívida” que temos para com todos os nossos irmãos, e que nunca estará completamente saldada.
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