23º Domingo do Tempo Comum - Ano A

07-09-2014 10:04

 

"Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles.”

Mt 18, 20

 

Verão rima, frequentemente, com multidões. As das praias onde é preciso ter cuidado em não pisar ninguém, as dos festivais onde milhares saltam ao mesmo ritmo, as dos turistas que parecem “tsunamis” a refazer a invasão do mar de 1755 na baixa lisboeta. Este ano surgiram também os “meets”, encontros de centenas de jovens em lugares públicos, convocados através das redes sociais, simplesmente para “serem muitos” e avançarem em ondas “pacíficas” (?) pela vida dos incautos transeuntes. E não tem sido uma multidão incontável de pessoas a aderirem em todo o mundo ao “banho gelado”, em favor do estudo e apoio de pessoas com Esclerose Lateral Amiotrófica?

Nos Evangelhos encontramos Jesus no meio de alguns banhos de multidão. E a sua fama na Galileia não permite que ande discretamente pelas aldeias, espalhando-se rapidamente a notícia da sua passagem. Mas se, por um lado, Jesus sente a compaixão pelas multidões que “andam como ovelhas sem pastor”, também vemos como procura os diálogos pessoais e o recolhimento dos encontros com os discípulos. As multidões querem fazê-l’O rei e irão pedir que seja crucificado! A dimensão comunitária da sua mensagem é do menos para o mais, do pequeno grupo para a assembleia, talvez sem pensar nos milhares de uma Praça de S. Pedro ou dos milhões de algumas jornadas papais. Sim, podem ser momentos maravilhosos, mas o segredo está na pequena reunião de “dois ou três”! E aí Jesus é profundamente inovador: os judeus para terem uma assembleia de oração precisam reunir 10 judeus adultos (homens); Jesus promete a sua presença a dois ou três reunidos em seu nome.

É a presença viva e real de Jesus que importa, em qualquer pequena comunidade dos seus amigos. Não o número, nem a “grandeza” de quem preside (parece que deve ser aquele que mais serve!), nem os atavios e alfaias que se usam, nem os ecos na comunicação social! Importa estar reunido com Ele, no seu nome, atraídos pelo seu projecto, abraçando a vida, que pode ser mais humana e mais divina! Daí nasce e alimenta-se a união, aquela que Jesus pediu e alguém, a propósito, brincava dizendo: “Jesus pediu que fôssemos unidos. Se hoje voltasse, talvez não nos visse unidos, mas reunidos, sim!”. O segredo é a “presença” de Jesus, não o cumprimento de obrigações ou o hábito de “fazer reuniões”.

No recomeço pastoral das nossas comunidades, na criatividade e ousadia do caminho sinodal da nossa Igreja de Lisboa saboreio convosco um poema de Miguel Torga: “Recomeça.... / Se puderes / Sem angústia / E sem pressa. / E os passos que deres, / Nesse caminho duro / Do futuro / Dá-os em liberdade. / Enquanto não alcances / Não descanses. / De nenhum fruto queiras só metade. // E, nunca saciado, / Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar. / Sempre a sonhar e vendo / O logro da aventura. / És homem, não te esqueças! / Só é tua a loucura / Onde, com lucidez, te reconheças...”. Recomecemos!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo sugere-nos uma reflexão sobre a nossa responsabilidade face aos irmãos que nos rodeiam. Afirma, claramente, que ninguém pode ficar indiferente diante daquilo que ameaça a vida e a felicidade de um irmão e que todos somos responsáveis uns pelos outros.

  • A primeira leitura fala-nos do profeta como uma “sentinela”, que Deus colocou a vigiar a cidade dos homens. Atento aos projectos de Deus e à realidade do mundo, o profeta apercebe-se daquilo que está a subverter os planos de Deus e a impedir a felicidade dos homens. Como sentinela responsável alerta, então, a comunidade para os perigos que a ameaçam.
  • O Evangelho deixa clara a nossa responsabilidade em ajudar cada irmão a tomar consciência dos seus erros. Trata-se de um dever que resulta do mandamento do amor. Jesus ensina, no entanto, que o caminho correcto para atingir esse objectivo não passa pela humilhação ou pela condenação de quem falhou, mas pelo diálogo fraterno, leal, amigo, que revela ao irmão que a nossa intervenção resulta do amor.
  • Na segunda leitura, Paulo convida os cristãos de Roma (e de todos os lugares e tempos) a colocar no centro da existência cristã o mandamento do amor. Trata-se de uma “dívida” que temos para com todos os nossos irmãos, e que nunca estará completamente saldada.

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