2º Domingo do Tempo Comum - Ano C

20-01-2013 09:52

 

 

DOMINGO II COMUM Ano C

"… tu guardaste o vinho bom até agora.” Jo 2, 10

O vinho bom

Gosto de entrar neste casamento de Caná assim à maneira de “fura-casamentos”, e imaginar-me nalgum dos papéis que o evangelista João nos apresenta. Talvez como um discípulo, contente por também ter sido convidado para a festa e saborear aquela alegria de estar à mesa com Jesus. Talvez como Maria, atenta e intérprete da aflição que está prestes a explodir, e humilde para pôr a situação nas mãos de Jesus. Ou como algum dos criados a encher até cima as talhas de água, sem perceber nada como é que isso iria resolver o problema. Quem sabe não poderia ser o chefe de mesa que bebe a água transformada em vinho e fica tão maravilhado que vai pedir explicações ao noivo. Ou talvez o noivo que fica sem palavras mas com a festa salva! E atrevo a colocar-me no lugar de Jesus, a adiantar a hora daquela boda que vai fazer na páscoa, quando o vinho fôr sangue, e a festa fôr “amar até ao fim”. Da Caná de hoje, visitada já há mais de uma década, lembro um vinho que “não chega aos calcanhares” de muitos bons néctares lusitanos!    

É espantoso que o primeiro sinal da vida de Jesus (assim chama João aos sete “milagres” de Jesus que são o fio condutor do seu evangelho) seja numa festa, distante dos lugares religiosos (os casamentos não se faziam no templo ou na sinagoga, com o espavento de espectáculo a que está muitas vezes associado), sem ressuscitar ninguém nem curar cegos ou paralíticos. Acontece numa festa que estava prestes a ser um fiasco. De um modo tão discreto que nem os noivos nem o chefe de mesa  se dão conta. A palavra da mãe de Jesus grava-se no nosso coração: “Fazei o que Ele vos disser”. É o que Maria está sempre a dizer-nos. E da água que é vida, mas aqui significava mais purificação religiosa, ritualismo infindável que gerava escrúpulos e preconceitos, distinções e méritos, Jesus faz vinho, festa gratuita e abundante, subversão e inconformismo que inverte os esquemas arrumados e aprisionados do amor: “guardaste o vinho bom até agora”. Ah, que graça e que espírito tem este vinho bom tocado por Cristo, e nós, tantas vezes, a beber e a servir “zurrapas” de uma fé acomodada, de uma esperança passiva, de uma caridade “quanto baste”. A hora de Jesus começada na Páscoa é um hoje contínuo, em que a alegria e a festa não são para adiar, em que o que partilhamos é que nos faz felizes (não aconteça como aquele homem que guardava vinhos excelentes para saborear, um dia, com os amigos, mas morreu antes de abrir uma só garrafa!).

 Se o vinho que Jesus oferece é a graça e o amor abundante de Deus, podemos encontrá-los na riqueza dos dons que cada um de nós tem e faz crescer (graças a Deus que ainda não pagam impostos!), na vida que frutifica apesar da crise. E a unidade dos cristãos, pela qual rezamos nestes dias, é tanto maior quanto mais somos como Jesus, a salvar em festa a vida que estava quase a ser desgraça. O pior é se já não bebemos nem damos a beber o vinho bom!

P. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade 20.01.2012

 

 

 

 

ANO C
2º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Tema do 2º Domingo do Tempo Comum

A liturgia de hoje apresenta a imagem do casamento como imagem que exprime de forma privilegiada a relação de amor que Deus (o marido) estabeleceu com o seu Povo (a esposa). A questão fundamental é, portanto, a revelação do amor de Deus.

  • A primeira leitura define o amor de Deus como um amor inquebrável e eterno, que continuamente renova a relação e transforma a esposa, sejam quais forem as suas falhas passadas. Nesse amor nunca desmentido, reside a alegria de Deus.
  • O Evangelho apresenta, no contexto de um casamento (cenário da “aliança”), um “sinal” que aponta para o essencial do “programa” de Jesus: apresentar aos homens o Pai que os ama, e que com o seu amor os convoca para a alegria e a felicidade plenas.
  • A segunda leitura fala dos “carismas” – dons, através dos quais continua a manifestar-se o amor de Deus. Como sinais do amor de Deus, eles destinam-se ao bem de todos; não podem servir para uso exclusivo de alguns, mas têm de ser postos ao serviço de todos com simplicidade. É essencial que na comunidade cristã se manifeste, apesar da diversidade de membros e de carismas, o amor que une o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

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