2º Domingo de Advento - Ano C

06-12-2015 09:52

 

 

“Endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus.” Lc 3, 5-6

 

A imagem foi largamente difundida e primeira página de alguns jornais: o par de sapatos pretos usados (tão parecidos com uns meus!), no meio de milhares de outros na Praça da República em Paris, tinham sido enviados pelo Papa Francisco. Simbolizavam o desejo de estar presente e levar as palavras da encíclica “Laudato Sí” à Cimeira do Clima, que debate as alterações climáticas. Há uma lenda que conta a história de um rei, que sofrendo pelos seus súbditos ferirem os pés descalços nos caminhos pedregosos do reino, teve a ideia de mandar atapetar todos os caminhos. Mas alguém, inteligentemente, convenceu-o a oferecer um par de sapatos a cada um e promover a indústria do calçado do reino! Que nos dizem dos caminhos andados os sapatos de alguém? Como entender a realidade do outro e não ter pressa em julgá-lo sem “andarmos uma semana com os seus sapatos calçados”, como diz um provérbio oriental? Os sapatos usados do Papa Francisco evocam os caminhos tortuosos, e não atapetados, por onde quer andar e desafia a Igreja a percorrer: de que serviriam pantufas ou sapatinhos de pelica fina nos caminhos escarpados que é preciso conhecer para aplanar?

Não se endireitam caminhos à distância. Há cinco anos como director do Museu Nacional de Arte Antiga, António Filipe Pimentel, numa entrevista à revista E do Expresso fala de caminhos e de beleza: “há uma superioridade que nos ilumina para a qual nós devemos trabalhar e que é essa superioridade que iremos legar no futuro. A imagem que as gerações futuras tiverem de nós não será dada pelas faturas do supermercado, será dada, sim, pela beleza que formos capazes de criar. (…) A Humanidade tem uma espécie de compensação entre um sentido de desesperação e uma apetência de elevação, se for puxado esse lado de elevação as pessoas adere. Falta-lhes muitas vezes um norte. […] Há um lado generoso que nos estimula e nos puxa para cima e que nos levaria a corrigir um dos nossos maiores defeitos que é o auto comprazimento e autocompaixão. Vivemos sempre a ter pena de nós próprios, o que é absolutamente inútil.” Algumas réplicas de pinturas do Museu que foram colocadas em algumas ruas de Lisboa fazem eco dessa elevação e tornam mais belos os caminhos nem sempre tão planos! Porque não se trata simplesmente da qualidade do piso: é preciso saber para onde queremos ir e com quem queremos ir!

Preparam-se os caminhos do Senhor ao endireitar os caminhos dos homens. Porque não foram outros que Jesus escolheu percorrer. Os caminhos servem para irmos ao encontro uns dos outros, para fazer circular a vida, como veias deste corpo que é a terra. Em tempo de guerra e medo destroem-se as estradas e as pontes, para isolar e melhor conquistar, e o isolamento das pessoas, e dos corações, mata muito. Parece insignificante o trabalho do cantoneiro mas quando falta, o mato invade o caminho, os buracos não são reparados, o caminho deixa de ser escolhido. Que caminhos precisamos reparar (dentro e fora de nós!) para que a humanidade se eleve? Será preciso pedir os sapatos do Papa Francisco?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

Podemos situar o tema deste domingo à volta da missão profética. Ela é um apelo à conversão, à renovação, no sentido de eliminar todos os obstáculos que impedem a chegada do Senhor ao nosso mundo e ao coração dos homens. Esta missão é uma exigência que é feita a todos os baptizados, chamados – neste tempo em especial – a dar testemunho da salvação/libertação que Jesus Cristo veio trazer.

  • O Evangelho apresenta-nos o profeta João Baptista, que convida os homens a uma transformação total quanto à forma de pensar e de agir, quanto aos valores e às prioridades da vida. Para que Jesus possa caminhar ao encontro de cada homem e apresentar-lhe uma proposta de salvação, é necessário que os corações estejam livres e disponíveis para acolher a Boa Nova do Reino. É esta missão profética que Deus continua, hoje, a confiar-nos.
  • A primeira leitura sugere que este “caminho” de conversão é um verdadeiro êxodo da terra da escravidão para a terra da felicidade e da liberdade. Durante o percurso, somos convidados a despir-nos de todas as cadeias que nos impedem de acolher a proposta libertadora que Deus nos faz. A leitura convida-nos, ainda, a viver este tempo numa serena alegria, confiantes no Deus que não desiste de nos apresentar uma proposta de salvação, apesar dos nossos erros e dificuldades.
  • A segunda leitura chama a atenção para o facto de a comunidade se dever preocupar com o anúncio profético e dever manifestar, em concreto, a sua solidariedade para com todos aqueles que fazem sua a causa do Evangelho. Sugere, também, que a comunidade deve dar um verdadeiro testemunho de caridade, banindo as divisões e os conflitos: só assim ela dará testemunho do Senhor que vem.

portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org