18º Domingo do Tempo Comum Ano C

31-07-2016 09:13

 

 

“Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens.” Lc 12, 15

 

Vaidade das vaidades” é o grito de Coelet que denuncia o vazio das riquezas que não estão ao serviço da dignidade humana. É o famoso “pecado” preferido do demónio, interpretado por Al Pacino, no filme “O advogado do Diabo”. Vaidade de ter, vaidade de triunfar, vaidade até de ser aplaudido por uma acção bem praticada. Pois não é ela que também faz esquecer os outros, e encerra no círculo de privilegiados quem vive “acima ou distante, no excesso ou no desperdício”, próprio dos ricos deste mundo?

Muitos séculos depois da parábola do “rico insensato” que Jesus contou, Charles Dickens, o escritor do realismo inglês do século XIX, plasmou no avarento Scrooge a mesma indiferença aos outros: o egoísmo é o suporte da avareza. Mas nunca está tudo perdido. Em torno de um Natal que vai transformar a sua vida, lemos, deliciadamente, a sua visita ao passado, ao presente e ao futuro, guiado pelo espírito do Natal de cada tempo, e, no confronto com a sua morte, decidirá ressuscitar a generosidade e a alegria de partilhar. As palavras do fantasma do seu sócio já falecido serão o início do seu despertar: “A busca da fraternidade e do bem comum é que deveria ter sido o meu negócio. A caridade, a misericórdia, a tolerância, a paciência, a bondade, tudo isso era parte do meu negócio e eu não sabia. Os meus assuntos financeiros eram apenas uma gota d’água no enorme oceano dos meus negócios!

Num mundo em que a economia é a principal preocupação e a “crise” o maior dos medos, é preciso aprender a ser bons administradores. No fundo, essa é a condição de liberdade e responsabilidade com que Deus nos criou. Liberdade para promover o desenvolvimento de todos e responsabilidade para não pensar só em si. Esse é o maior escândalo do homem do evangelho que teve uma grande colheita. Não se julga nem avalia o trabalho e o direito à riqueza obtida. Escandaliza que apenas se preocupe com o seu bem-estar e com o acumular das coisas: não tem mulher, nem filhos, nem amigos, nem vizinhos. O sonho de acumular é a sua maior pobreza, e reduz a sua alma e a vida a um pobre horizonte existencial: “Descansa, come, bebe, regala-te”. O “ter mais” transforma-se na corrente que Dickens também descreveu no seu conto: “Carrego a corrente que fiz em vida – respondeu o Fantasma. – Fiz cada um destes elos, metro por metro, e enrolei-os em volta da cintura, por minha livre vontade, e por livre vontade arrasto-os por toda a parte.”

Tornar-se rico aos olhos de Deus” é deixar de viver para si mesmo. É sair do “buraco negro” em que a ânsia de mais, do supérfluo e do secundário, do imediato e do material, nos pretende engolir. Em direcção a Deus encontramo-nos melhor com os outros, redescobrimos a alegria da simplicidade e de como os bens promovem felicidade ao serem postos “em movimento”. Assim também com a colheita interior dos dons que cada um tem: se os guardamos eles secam, se os oferecemos eles multiplicam-se. É em vida que importa não ser avarentos no carinho, no tempo, na comunhão com os que mais amamos. Guardar esse amor para chorar muito no dia da sua morte só alimentará frustração e vazio. É preciso a “irmã morte” acordar-nos para uma vida mais feliz? Para uma vida tão cheia de outras riquezas?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo questiona-nos acerca da atitude que assumimos face aos bens deste mundo. Sugere que eles não podem ser os deuses que dirigem a nossa vida; e convida-nos a descobrir e a amar esses outros bens que dão verdadeiro sentido à nossa existência e que nos garantem a vida em plenitude.

  • No Evangelho, através da “parábola do rico insensato”, Jesus denuncia a falência de uma vida voltada apenas para os bens materiais: o homem que assim procede é um “louco”, que esqueceu aquilo que, verdadeiramente, dá sentido à existência.
  • Na primeira leitura, temos uma reflexão do “qohélet” sobre o sem sentido de uma vida voltada para o acumular bens… Embora a reflexão do “qohélet” não vá mais além, ela constitui um patamar para partirmos à descoberta de Deus e dos seus valores e para encontramos aí o sentido último da nossa existência.
  • A segunda leitura convida-nos à identificação com Cristo: isso significa deixarmos os “deuses” que nos escravizam e renascermos continuamente, até que em nós se manifeste o Homem Novo, que é “imagem de Deus”.

 

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