17º Domingo do Tempo Comum - Ano A

27-07-2014 09:11

 

"… ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo.”

Mt 13, 44

Não me parece que seja pela alegria e pelo júbilo que somos conhecidos como cristãos. Como se faltasse um fulgor e um encanto (que reconhecemos em Jesus e em uns poucos dos seus discípulos) que contrasta com algumas celebrações e práticas religiosas onde sobressai um “cinzentismo” de rostos e palavras “decoradas”, ou um ar compungente e triste. E se o Papa Francisco tem mostrado e convidado a viver da fonte da alegria que é o encontro com Jesus, a verdade é que já há “católicos” escandalizados, vendo nele um “perigo” para a Igreja, ou alguém a quem se deve dar “um desconto” para que a “fortaleza da verdadeira religião”não desmorone. 

Falta a descoberta do tesouro e da pérola que as parábolas de hoje descrevem. Se encontrar o Reino produz uma alegria que leva a despojar-se de tudo para o obter, como se entendem práticas religiosas sem fulgor nem atracção? E não penso na alegria espalhafatosa ou alienada, dos que vivem na opulência dos prazeres e no esbanjamento egoísta, indiferentes aos homens e mulheres como eles, que lutam para sobreviver, para trabalhar, para comer. Desconfio da alegria armadilhada de programas televisivos vendidos à “fé” do “telefone que pode ganhar…!”, ou da vitória passageira de um jogo de futebol. E que dizer da alegria do culto da eterna juventude do corpo ou da moda, sempre à procura de “estar bem consigo mesmo”, a que custo! Porque a alegria que aspiro é a que não produz ressacas, nem se celebra com “bebedeiras” de nenhuma espécie. 

O Reino de Deus implica uma decisão que produz alegria: libertarmo-nos de muitas coisas acessórias que impedem a descoberta jubilosa do amor de Deus. Talvez saber “perder” para “ganhar” em autenticidade e simplicidade. E porque a alegria também vive do bom humor aqui partilho uma oração de S. Tomás More, o conselheiro de Henrique VIII, decapitado na Torre de Londres: “Senhor, dai-me uma boa digestão e também algo para digerir. / Dai-me a saúde do corpo e o bom humor necessário para mantê-la. / Dai-me Senhor, uma alma simples que saiba aproveitar tudo o que é bom e que nunca se assuste diante do mal, mas, pelo contrário, encontre sempre a maneira de pôr cada coisa no seu lugar. / Dai-me uma alma que não conheça o tédio, as murmurações, as mágoas e as lamentações; e não permitais que me preocupe excessivamente com a coisa complicada demais que se chama “eu”. / Dai-me Senhor, o senso do bom humor. / Concedei-me a graça de apreciar tudo o que é divertido para descobrir na vida um pouco de alegria e também para partilhá-la com os outros. Amém.”

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Vedade

 

 

A liturgia deste domingo convida-nos a reflectir nas nossas prioridades, nos valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere, especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus.

  • A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. Ele é o protótipo do homem “sábio”, que consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir e alienar por valores efémeros.
  • No Evangelho, recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os outros valores e interesses devem passar para segundo plano, face a esse “tesouro” supremo que é o Reino.
  • A segunda leitura convida-nos a seguir o caminho e a proposta de Jesus. Esse é o valor mais alto, que deve sobrepor-se a todos os outros valores e propostas.

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