16º Domingo do Tempo Comum - Ano B

19-07-2015 09:03

 

 

"Viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente.” Mc 6, 34

 

 

Durou apenas uma breve travessia do lago, o descanso que Jesus quis dar aos discípulos. Como brilhavam os olhos deles pela alegria da missão, e como os deve ter olhado Jesus com ternura e encanto! Por isso, aquele pequeno trajecto, a troca de olhares e de palavras, teve o sabor de uma enorme viagem. Uma daquelas viagens em que os olhos abraçam tudo o que encontram, e se espantam e encantam. À maneira das palavras que Miguel Sousa Tavares lembra ter a sua mãe dito, a poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen, na Piazza Navona, em Roma, diante da sua impaciência em ir a todo o lado: “Miguel, viajar é olhar!” Não se vai a lugar nenhum sem disponibilidade para olhar.  

Na epígrafe do romance “Ensaio sobre a cegueira”, José Saramago cita o Livro dos Conselhos de El-Rei D. Duarte:

Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.” “Janelas da alma”,  ”intérprete do coração”, nos olhos de cada um se reflecte o mundo e se vislumbra o invisível. “Quis Deus que a única coisa que não se pode disfarçar seja o olhar do homem”, escreveu Alexandre Dumas. E até ouvi contar, que quem inventou os óculos escuros, foram os comerciantes orientais, para disfarçar o aumentar das pupilas, que sugerem o grande interesse por algo que desejamos! Não consigo imaginar a dor de não ver, mas assustam-me os avisos sérios que são feitos ao aumento da cegueira e da miopia entre os mais novos, pelo excessivo tempo que passam diante de écrans, ou fechados em casa.

Quantas vezes dou comigo a imaginar o olhar de Jesus! A profundidade e a simplicidade que devia emanar dos seus olhos, o riso e o brilho que cativavam quem neles mergulhava, devia ser indescritível. E lembro uma canção de Vinicius de Moraes: “quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar…”, porque não há encontro mais luminoso que este. Nos seus olhos vejo o encanto de Deus a criar e a “ver” que era tudo muito bom; os olhos atentos ao sofrimento de Isarel no Egipto e a decisão de escolher Moisés para libertar o povo; a visão que “não olha a aparência mas vê com o coração” quando escolhe o rei David; a ternura com que visita Maria e olha para a humilde serva”. E vejo os apóstolos e a mulheres que vai escolhendo, Marta, Maria e Lázaro, Zaqueu e o jovem rico, as crianças e a mulher adúltera, Pedro e Judas, e as multidões sem pastor. O olhar de Jesus não deixa nada na mesma: ilumina, abençoa, salva, compromete. É esse olhar que Ele coloca nos nossos olhos, e que, tantas vezes, descuramos em estrabismos e miopias, cataratas e presbiopias, voluntárias ou de desleixo! O que precisamos para olhar e ver como Ele?

É claro que Jesus é o “bom oftalmologista”, e o Espírito Santo o melhor remédio. Mas há pequenas grandes coisas que ajudam à prevenção das nossas cegueiras: menos discursos e mais vida; menos juízos e mais perdão; menos indiferença e mais entreajuda; menos escuridão e mais sol; menos tristeza e mais jovialidade; menos “sacristia” e mais “praça”; menos isolamento e mais partilha; menos “óculos escuros” e mais “olhos nos olhos”! Que bom vermo-nos!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum dá-nos conta do amor e da solicitude de Deus pelas “ovelhas sem pastor”. Esse amor e essa solicitude traduzem-se, naturalmente, na oferta de vida nova e plena que Deus faz a todos os homens.

  • Na primeira leitura, pela voz do profeta Jeremias, Jahwéh condena os pastores indignos que usam o “rebanho” para satisfazer os seus próprios projectos pessoais; e, paralelamente, Deus anuncia que vai, Ele próprio, tomar conta do seu “rebanho”, assegurando-lhe a fecundidade e a vida em abundância, a paz, a tranquilidade e a salvação.
  • O Evangelho recorda-nos que a proposta salvadora e libertadora de Deus para os homens, apresentada em Jesus, é agora continuada pelos discípulos. Os discípulos de Jesus são – como Jesus o foi – as testemunhas do amor, da bondade e da solicitude de Deus por esses homens e mulheres que caminham pelo mundo perdidos e sem rumo, “como ovelhas sem pastor”. A missão dos discípulos tem, no entanto, de ter sempre Jesus como referência… Com frequência, os discípulos enviados ao mundo em missão devem vir ao encontro de Jesus, dialogar com Ele, escutar as suas propostas, elaborar com Ele os projectos de missão, confrontar o anúncio que apresentam com a Palavra de Jesus.
  • Na segunda leitura, Paulo fala aos cristãos da cidade de Éfeso da solicitude de Deus pelo seu Povo. Essa solicitude manifestou-se na entrega de Cristo, que deu a todos os homens, sem excepção, a possibilidade de integrarem a família de Deus. Reunidos na família de Deus, os discípulos de Jesus são agora irmãos, unidos pelo amor. Tudo o que é barreira, divisão, inimizade, ficou definitivamente superado.

 

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