15º Domingo do Tempo Comum - Ano A

13-07-2014 08:54

"Outras caíram em boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por  um

Mt 13, 8

 

​Não sei se é da crise, se é moda passageira, se são sudades da terra, mas a quantidades de meus amigos e conhecidos que arranjaram um pedaço de terreno que cultivam ou uns vasos com ervas aromáticas na varanda é enorme. E senti-me contagiado, mas as ervas que semeei, por inépcia ou pouca constância mal rebentaram. É preciso organização e diponibilidade mas pude perceber como a terra é benigna para quem a cuida e como as sementes são surpreendentes. É verdade que é um trabalho duro mas a regra da multiplicação, quando não há intempéries ou imprevistos, é verdadeira. Por isso é grande a dor perante o desperdício de frutos ou produtos agrícolas que as regras do mercado lançam 

ao lixo. Ou o estado de abandono de frutos nas árvores que os proprietários não apanham nem partilham.  

Segundo dados de 2012, "em Portugal cerca de um milhão de toneladas de alimentos por ano (17% do que é produzido) vai para o lixo, e nos 27 Estados Membros da UE a produção anual de resíduos alimentares ronda os 89 milhões de toneladas, estimando a UE que possa chegar a 126 milhões de toneladas em 2020. 30% dos produtos horto-frutícolas na Europa vão para o lixo!” (cf. www.replanta.pt). Estes dados levaram o Parlamento Europeu a aprovar este ano de 2014 como Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar. Às iniciativas urbanas (Re-food, Zero Desperdício) outras podem juntar-se, nomeadamente de cariz mais local (a nespereira que deu fruta abundante, ou o couval que se estragará se não fôr colhido e que poderiam ser partilhados…). Não se trata de desvalorizar o trabalho e alimentar a preguiça mas de promover uma justa partilha e reconhecer que a abundância de uns pode colmatar a penúria de outros.

Que dizer então das sementeiras e colheitas que acontecem na alma de cada pessoa? Como as valorizamos e estimulamos? Que qualidade procuramos para as sementes e com que cuidado favorecemos o seu crescimento? O semeador da parábola põe em causa as regras da agricultura! Então ele semeia sem se importar com o terreno? Parece um desperdício, mas lança as sementes com uma esperança invulgar: deseja que cheguem a todos os terrenos! É porque não lhe faltam sementes, e parece estar aberto à surpresa da sua força. Talvez nos aponte a universalidade da sementeira especial que é evangelizar. Para não cairmos em “condomínos espirituais” ou “quintinhas de terrenos bons”!  

É a alegria do semeador o que mais ressalta desta parábola. A semente que espalha não acaba, pois é o inesgotável amor de Deus. A sua preocupação não é a abundãncia da colheita; ela fará feliz principalmente aquele que der fruto. Ele não quer sementes desperdiçadas em sacos bafientos, guardadas como se tivessem valor por si, sem serem semeadas. E Ele que é semeador faz-se semente confiada às nossas mãos, às mãos da Igreja. Guardá-l’O é impedir que se multiplique!

Pe.Vitor Gonçalves

In Voz da Verdade

 

A liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum convida-nos a tomar consciência da importância da Palavra de Deus e da centralidade que ela deve assumir na vida dos crentes.

  • A primeira leitura garante-nos que a Palavra de Deus é verdadeiramente fecunda e criadora de vida. Ela dá-nos esperança, indica-nos os caminhos que devemos percorrer e dá-nos o ânimo para intervirmos no mundo. É sempre eficaz e produz sempre efeito, embora não actue sempre de acordo com os nossos interesses e critérios.
  • O Evangelho propõe-nos, em primeiro lugar, uma reflexão sobre a forma como acolhemos a Palavra e exorta-nos a ser uma “boa terra”, disponível para escutar as propostas de Jesus, para as acolher e para deixar que elas dêem abundantes frutos na nossa vida de cada dia. Garante-nos também que o “Reino” proposto por Jesus será uma realidade imparável, onde se manifestará em todo o seu esplendor e fecundidade a vida de Deus.
  • A segunda leitura apresenta uma temática (a solidariedade entre o homem e o resto da criação) que, à primeira vista, não está relacionada com o tema deste domingo – a Palavra de Deus. Podemos, no entanto, dizer que a Palavra de Deus é que fornece os critérios para que o homem possa viver “segundo o Espírito” e para que ele possa construir o “novo céu e a nova terra” com que sonhamos.

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