14º Domingo do Tempo Comum - Ano C

03-07-2016 08:40

 

“Enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir.” Lc 10, 1

 

 

 

 

“Todos” é uma palavra quase impossível. Porque na maravilhosa diversidade da criação tem-se a sensação que algo ou alguém pode ficar de fora. Criado em 2009, o TODOS - Caminhada de Culturas é um festival da cidade de Lisboa que procura promover o diálogo entre culturas, entre religiões e entre pessoas de diversas origens e gerações. Realiza-se este ano entre 8 e 11 de setembro na Colina de Santana / Campo Mártires da Pátria. É um pequeno sinal de que “todos” é uma palavra possível.

Creio mesmo que é uma das palavras preferidas de Deus. No fundo só Ele pode criar, contemplar e abraçar tudo e todos. E tudo o que nos oferece é sempre a cada um, a pensar em todos. Assim se revela a um povo para chegar a todos. Assim entra na carne da humanidade pelo Filho para salvar todos. Assim procura a ovelha perdida com o mesmo amor com que multiplica os pães e os peixes. Assim faz de cada um que descobre o seu amor e o seu projecto de comunhão um testemunho vivo que contagie todos. Mas, tantas vezes voltados para o nosso umbigo, e dentro das muralhas cómodas das nossas existências, a paixão por todos não nos abrasa o coração. Preferimos clubes e fronteiras, o “salve-se quem puder” em vez de “salva quantos puderes”, a “minha vidinha” à “vida em abundância”. Sim, custa-nos muito amar todos!

A vida pública de Jesus parece muito pouco planeada numa lógica de eficácia e de marketing. Não tem uma campanha montada como é hoje, por exemplo, a campanha para as presidenciais norte-americanas. Rodeia-se de seguidores pouco preparados para a grandeza da missão. O seu plano parece incipiente: “ir às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10, 6); “enviou-os dois a dois à sua frente a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir” (Lc 10, 1). Para chegar a todos deseja ir primeiro às periferias, às ovelhas perdidas, aos excluídos da sociedade e da religião. Mas não faz tudo sozinho. Envia discípulos, 72 neste caso, símbolo de universalidade. Ah, Deus gosta tanto de nos “meter ao barulho” e não nos substituir naquilo que podemos fazer também! Como se nos dissesse que “aquilo que pode ser feito por muitos não deve ser feito por poucos!” Mais do que nos resultados, Jesus insiste na sementeira e na credibilidade dos semeadores: pacíficos, pobres, anunciadores da proximidade do Reino, preparados para as dificuldades.

Não somos cristãos sem sermos discípulos e apóstolos. O anúncio do reino que recebemos, a vida nova com Jesus que construímos é o que anunciamos. E não podemos anunciar o que não queremos viver. Por isso, não é a eficácia e os resultados imediatos que nos devem alegrar e sim os nossos nomes estarem “escritos no céu”, quer dizer, viver em comunhão com Jesus e o coração apaixonado por todos. Ficar fechados em comunidades e grupos auto-satisfeitos, centrar a vida num culto vazio ou numa lógica de manutenção, criar medo ao diálogo, ao outro, à rejeição, é deixar de viver animado pelo Espírito de Jesus. É esquecer que o tesouro da fé cristã é para todos, e que a esperança e o amor nos impelem a sair. A perfeição e a santidade concretizam-se mais em todos do que só em alguns (quase sempre iludidos, soberbos e, por isso, uns enormes chatos!). Dá-nos, Senhor, a tua paixão por todos e por cada um, a coragem de romper fronteiras, a pobreza de precisarmos que todos sejam felizes!

Padre Vito Gonçalves

in Voz da Verdade

 

Embora as leituras de hoje nos projectem em sentidos diversos, domina a temática do “envio”: na figura dos 72 discípulos do Evangelho, na figura do profeta anónimo que fala aos habitantes de Jerusalém do Deus que os ama, ou na figura do apóstolo Paulo que anuncia a glória da cruz, somos convidados a tomar consciência de que Deus nos envia a testemunhar o seu Reino.

É, sobretudo, no Evangelho que a temática do “envio” aparece mais desenvolvida. Os discípulos de Jesus são enviados ao mundo para continuar a obra libertadora que Jesus começou e para propor a Boa Nova do Reino aos homens de toda a terra, sem excepção; devem fazê-lo com urgência, com simplicidade e com amor. Na acção dos discípulos, torna-se realidade a vitória do Reino sobre tudo o que oprime e escraviza o homem.

  • Na primeira leitura, apresenta-se a palavra de um profeta anónimo, enviado a proclamar o amor de pai e de mãe que Deus tem pelo seu Povo. O profeta é sempre um enviado que, em nome de Deus, consola os homens, liberta-os do medo e acena-lhes com a esperança do mundo novo que está para chegar.
  • Na segunda leitura, o apóstolo Paulo deixa claro qual o caminho que o apóstolo deve percorrer: não o podem mover interesses de orgulho e de glória, mas apenas o testemunho da cruz – isto é, o testemunho desse Jesus, que amou radicalmente e fez da sua vida um dom a todos. Mesmo no sofrimento, o apóstolo tem de testemunhar, com a própria vida, o amor radical; é daí que nasce a vida nova do Homem Novo.
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