12º Domingo do Tempo Comum - Ano C

23-06-2013 08:59

 

"E vós, quem dizeis que Eu sou?”. Lc 9, 20

“Quem dizeis…?”

 

Todos os caminhos que fazemos com alguém têm  sempre encruzilhadas. São momentos e situações de escolha, que comprometem a ir juntos mais além, ou deixam cada um seguir vias diferentes. Em Cesareia de Filipe Jesus provoca um desses momentos. Com a aparência de um inquérito interpela os discípulos sobre a sua identidade. Gosto de imaginar este momento com a densidade dos apaixonados que se perguntam: “quem sou eu para ti?” Se foi importante saber as opiniões diversas que circulavam sobre Jesus, creio que foi essencial, para Ele, saber o que pensavam os seus amigos. E a resposta de Pedro tem um sabor doce e amargo: doce pois reconhece n’Ele o salvador, mas amargo, porque as ideias de salvação eram (e às vezes ainda são) muito distorcidas. 

As perguntas de Jesus foram duas mas uma terceira poderia ser colocada: quem dizem hoje as multidões que são os discípulos e amigos de Jesus? Quem não conhece o evangelho, e não tem nenhuma base religiosa, acaba por saber de Jesus apenas aquilo que transmitimos. E não são as diferentes opiniões àcerca de Jesus que originam as maiores confusões: são as atitudes que podem ser tão diferentes e, às vezes, pouco evangélicas. Pois o confronto com o evangelho será sempre o maior critério de autenticidade, e se até entre os discípulos, logo na igreja nascente, surgiram opiniões diversas àcerca de Jesus e da missão, o que ninguém punha em dúvida era o essencial do mandamento do amor, a centralidade dos pobres e a adoração a Deus em espírito e verdade.

Após a resposta de Pedro Jesus faz o primeiro anúncio da sua paixão. Os evangelhos sinópticos referem-no e Lucas concretiza ainda mais este seguimento de Jesus: “tome a sua cruz todos os dias e siga-me”. É verdade que não é aliciante esta linguagem da cruz, quantas vezes revestida de um dolorismo e de uma apologia do sofrimento, que têm tão pouco a ver com a libertação que Jesus traz. A cruz relaciona-se directamente com a autenticidade, com a vida dada por amor e dada até ao fim. Significa abraçar a totalidade do nosso ser, a fragilidade de criaturas e a grandeza de ser amados. Jesus não convida ao sofrimento mas a ultrapassá-lo pelo amor e a vencer as suas causas no empenho pela justiça, na coragem da verdade e da paz.   

Vivemos dias difíceis em Portugal e no mundo: guerra na Síria, manifestações na Turquia e no Brasil, greves e conflitos na educação no nosso país. Explicações? Muitas, e talvez em todas a mesma pergunta feita pelas populações aos governantes e que os governantes deviam fazer aos seus concidadãos: “Quem dizeis vós que nós somos?” Por aqui, ainda que muito de errado precise ser corrigido em direitos e benefícios extravagantes, também no campo da educação, desgosta-me o desprezo generalizado a quem abraçou o serviço de ensinar e é avaliado como mero parafuso de uma engrenagem. Afinal, talvez Jesus nos pergunte: “quem dizemos nós o que somos uns para os outros?”

 

P. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade 23.06.2013

 

 

A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.

O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.

A primeira leitura apresenta-nos um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega trouxe conversão e purificação para os seus concidadãos. Revela, pois, que o caminho da entrega não é um caminho de fracasso, mas um caminho que gera vida nova para nós e para os outros. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo.

A segunda leitura reforça a mensagem geral da liturgia deste domingo, insistindo que o cristão deve “revestir-se” de Jesus, renunciar ao egoísmo e ao orgulho e percorrer o caminho do amor e do dom da vida. Esse caminho faz dos crentes uma única família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.

 

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