12º Domingo do Tempo Comum - Ano A

25-06-2017 09:29

 

“Não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos.” Mt 10, 31

 

Inferno! Talvez a palavra mais repetida sobre os incêndios dos últimos dias, que ceifaram vidas, e bens, e florestas. Que palavras para descrever o desequilíbrio entre as forças da natureza e o esforço heroico de homens e mulheres? Como lembrar os acasos e providências de vidas que se salvaram, de entreajudas milagrosas, de heroicidade inesperada? Como contar a dor de perder pessoas amadas, de decisões irremediáveis, de ver o fogo devorar tudo e todos? Entre o inevitável e o evitável é possível tirar lições e sabedoria para o futuro. Porque no íntimo não se fica na mesma: “O que mais preocupa é o estado de espírito das pessoas [...] Qualquer gesto neste momento é importante”, disse o P. Júlio dos Santos, Pároco de Pedrógão Grande e filho da terra.

Falar dos incêndios não é simples sem pode ser simplista. E como acontecem na época de calor, em que férias e praia são mais aliciantes do que reflexões e estudos sérios para levar a decisões justas e honestas, a pouco e pouco abafar-se-ão os gritos e outras notícias ganharão destaque. Se a maior questão é económica, fale-se abertamente, envolvendo proprietários, autarquias e todas as instituições, com o sentido de bem comum, tão evidente na partilha solidária para o socorro imediato das catástrofes, e tão rapidamente esquecido com o passar do tempo!  Quase dói relembrar a nota pastoral “Cuidar da casa comum – prevenir e evitar os incêndios” dos Bispos de Portugal de 27 de abril passado (dois meses antes do “inferno” de Pedrógão Grande!). Podia ser um programa de acção: 1. Apurar, detetar e combater os comportamentos criminosos e os interesses em torno dos incêndios; 2. Prevenção, limpeza e ordenamento das florestas e as consequentes necessidades económicas; 3. Papel inestimável dos bombeiros e de numerosas instituições; 4. Mudança de mentalidade, compromisso e educação. Escutar e pôr em prática depende de todos, e não é esse o método de Jesus?!

É porque “valemos mais do que todos os passarinhos”, como diz Jesus no evangelho de hoje, que não podemos chorar agora e esquecer amanhã. O mal evitável é da nossa responsabilidade. Cito a referida nota: “é fundamental que todos olhemos a natureza não como uma simples fonte de utilidade e rendimento económico e por isso facilmente sujeita a explorações de tal modo desordenadas que a destroem totalmente. Até mesmo por não nos ser possível viver sem ela, há que respeitá-la e valorizá-la, na sua bondade, harmonia e equilíbrio, como um dom que recebemos e um legado que devemos esforçar-nos por transmitir às gerações futuras” (n.5).

Nunca evitaremos todas as catástrofes que a natureza bela e, às vezes, terrível, é capaz de oferecer. É bom lembrar a nossa fragilidade e pequenez. Mas está nas nossas mãos evitar os males maiores a que nos levam a inconsciência e a ganância. É preciso vencer o egoísmo e a soberba que desprezam o bem comum. Porque todos valemos muito! E é Deus quem o diz!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

As leituras deste domingo põem em relevo a dificuldade em viver como discípulo, dando testemunho do projecto de Deus no mundo. Sugerem que a perseguição está sempre no horizonte do discípulo… Mas garantem também que a solicitude e o amor de Deus não abandonam o discípulo que dá testemunho da salvação.

  • A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de um profeta do Antigo Testamento – Jeremias. É o paradigma do profeta sofredor, que experimenta a perseguição, a solidão, o abandono por causa da Palavra; no entanto, não deixa de confiar em Deus e de anunciar – com coerência e fidelidade – as propostas de Deus para os homens.
  • No Evangelho, é o próprio Jesus que, ao enviar os discípulos, os avisa para a inevitabilidade das perseguições e das incompreensões; mas acrescenta: “não temais”. Jesus garante aos seus a presença contínua, a solicitude e o amor de Deus, ao longo de toda a sua caminhada pelo mundo.
  • Na segunda leitura, Paulo demonstra aos cristãos de Roma como a fidelidade aos projectos de Deus gera vida e como uma vida organizada numa dinâmica de egoísmo e de auto-suficiência gera morte.
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