11º Domingo do Tempo Comum - Ano B

14-06-2015 08:24

 

 

"A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar?” Mc 4, 30

 

 

Ponho-me, às vezes, a imaginar as parábolas que Jesus contaria hoje, a partir da nossa vida urbana, computorizada, e tão frenética em informações. Que simbolismos encontraria no que somos e fazemos para nos falar do Reino? Pois as histórias simples que os evangelhos nos guardaram, falam do reino de Deus a partir da vida quotidiana, “picam-nos como a urtiga”, como gostava de dizer o biblista Carlos Mesters, e não nos deixam na mesma. Mais do que um conhecimento conceptual movem-nos para um dinamismo existencial, mais do que ideias, colocam-nos em relação com o Deus vivo e com a vida que Ele nos oferece.

A grandeza da missão de Jesus contrasta com a “insignificância” do seu método! Dirão alguns entendidos: “Histórias contam-se às crianças! As grandes mudanças do mundo fazem-se com políticas acertadas, com o poder bem orientado, e com chefes esclarecidos!” Qual o poder da lógica do mistério, do fermento na massa, do tesouro escondido, da semente que cresce sem o semeador dar conta? As parábolas reenviam-nos à simplicidade das situações humanas, onde fazemos a experiência de uma generosidade de vida que é maior do que nós, da qual beneficiamos e nos tornamos responsáveis. Elas revelam o poder e a grandeza do que é pequeno, do que é desprezado pela soberba de “quem é importante”, do que pode crescer e tornar-se grande sem ser pela força ou pela opressão. E esse é o único modo do reino se tornar grande: engrandecendo o que era insignificante e elevando o que era espezinhado!

Não há frutos sem sementeira. E da natureza recebemos a lição de uma abundância que não controlamos: pode haver acidentes e imprevistos, mas cada semente tem um factor de multiplicação inesperado. E o que dizer das pessoas quando são valorizados os seus esforços, o empenho e a entrega, o próprio sacrifício que é palavra tão envergonhada na comum linguagem dos prazeres? Dói-me ver como tantas crianças e jovens são pouco incentivados e animados a esforçarem-se na sementeira do saber e do trabalho, quantas vezes pela indiferença dos próprios pais. Há dias ouvi uma expressão que descrevia a excessiva protecção, disfarçada de amor, de alguns pais: “Eles ‘coitadinham’ os filhos!

O reino de Deus não é para “coitadinhos”, e a sementeira a que Jesus convoca é para quem O quer seguir. Para quem acredita na força de pequenos gestos de humanização: no diálogo que acolhe, na partilha que gera criatividade, na inclusão que dignifica, na bondade que se contagia. Mesmo quando parecem enormes as mudanças a fazer, e a tentação de desistirmos ou pensar que só os “grandes deste mundo” podem mudar alguma coisa, ainda aí, semear não é facultativo!  Como dizia Miguel Torga, “todo o semeador / Semeia contra o presente. / Semeia como vidente / A seara do futuro, / Sem saber se o chão é duro / e lhe recebe a semente.” Há um crescimento e uma fecundidade que serão sempre dom de Deus! Como são dons as sementes que cada pessoa tem para dar! Que ninguém fique “coitadinho” no seu canto!


Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum convida-nos a olhar para a vida e para o mundo com confiança e esperança. Deus, fiel ao seu plano de salvação, continua, hoje como sempre, a conduzir a história humana para uma meta de vida plena e de felicidade sem fim.

  • Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilónia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da história comportam, Israel deve continuar a confiar nesse Deus que é fiel e que não desistirá nunca de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.
  • O Evangelho apresenta uma catequese sobre o Reino de Deus – essa realidade nova que Jesus veio anunciar e propor. Trata-se de um projecto que, avaliado à luz da lógica humana, pode parecer condenado ao fracasso; mas ele encerra em si o dinamismo de Deus e acabará por chegar a todo o mundo e a todos os corações. Sem alarde, sem pressa, sem publicidade, a semente lançada por Jesus fará com que esta realidade velha que conhecemos vá, aos poucos, dando lugar ao novo céu e à nova terra que Deus quer oferecer a todos.
  • A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa actual caminhada pela história, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.

 

scj.lu@netcabo.pt – www.dehonianos.org