10º Domingo do tempo comum - Ano B

10-06-2018 09:11

 

 

 

“Quem fizer a vontade de Deus,

esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe.” Mc 3, 35

 

 

 

 

É difícil explicar o mal. Procuramos causas, respostas e justificações. Percebemos que sofremos por males inevitáveis, e por muitos outros, evitáveis. A Bíblia também procurou encontrar uma causa e deixou-nos o relato a que chamamos “do pecado original”. Mais do que uma explicação, é uma narração que tem a ver com todos os humanos: somos Adão e Eva, e a liberdade de escolher é uma maravilha e um risco. Há ali medo, acusações, rupturas de relação, dor de errar, castigo: mas Deus promete a esperança. A intimidade ferida irá ser curada; o mal e os seus efeitos não terão a palavra definitiva.

De Jesus chega a dizer-se que estava “fora de si”, e que libertava e curava porque se aliara ao “chefe dos demónios”. Quer a sua família que tenta, talvez, protegê-l’O, quer os escribas que o acusam de agir em nome do demónio, contrastam com a “nova família de Jesus”, aqueles que o Escutam e se sentam à sua volta. Reconhecer Jesus como vencedor do mal exige uma escolha transformadora. Mexe com hábitos e rotinas. Põe em causa explicações em que as pessoas são escravas de forças desconhecidas. Deita abaixo o poder de quem domina pelo medo e pela culpa. É mais fácil ceder à cegueira do que não entendemos, fugir do encontro que liberta e desacomoda, recusar as responsabilidades próprias nas escolhas erradas. Se o mal só pode ser vencido pelo bem, que endurecimento de coração e de inteligência leva a recusar aquele que o faz?

À “nova família de Jesus” pertencem os que procuram fazer a vontade de Deus. O critério dos laços familiares foi alargado ao infinito. Não basta conhecer (ou julgar que se conhece) Jesus, nem apresentar um currículo religioso apropriado. A biologia e a tradição são secundarizadas. E tudo aquilo que podiam significar de “prisão”, também. É preciso sintonizar com o bater do coração de Deus, mergulhar na vida nova de ser “irmão” de Jesus, escutar a sua palavra e encarná-la na própria vida. Pois a vontade de Deus é a felicidade de todos, a plenitude do ser humano. Ainda que haja males que perdurem, o dinamismo que Jesus oferece liberta e unifica, dignifica e desenvolve, renova e salva.

Mais do que deixar respostas para os mistérios do mal e dos males, o convite de Jesus é a enfrentá-los. Condenar o mal, mas não desistir de salvar o malvado. Suprimir os males evitáveis, que têm a nossa assinatura de autor! Usar a inteligência e fazer todo o bem possível. Não cada um por si, pois o mal do egoísmo ou da indiferença é o primeiro a vencer, mas com outros, em “família nova”!

Pe. Vitor Gonçalves

Voz da Verdade

 

O tema deste 10.º Domingo do Tempo Comum gravita à volta da identidade de Jesus e da comunhão que Ele deseja estabelecer com aqueles que se colocam na disposição de o seguir: fica claro que Jesus não tem qualquer aliança com o Demónio e com o poder do mal e que se quer definir pela sua relação de obediência com Deus Pai, à qual convida todos aqueles que se querem sentir parte da sua família.

  • No Evangelho, Jesus demonstra que, na sua atividade de libertação do poder do mal, não pode estar a pactuar com o Demónio, mas vem para libertar os homens e as mulheres de todos os tempos. Também nisso está a fazer a vontade de Deus e convida todos a fazer comunidade centrada na sua pessoa e decidida a construir um mundo que se baseie neste desejo de fazer a vontade de Deus.
  • A primeira leitura traz-nos o diálogo de Deus com as figuras poéticas do primeiro homem e da primeira mulher, depois da queda. Este texto procura chamar-nos ao sentido da existência, deixando claro que todos somos chamados a não pactuar com o mal e a estar de sobreaviso diante das tentações do Maligno.
  • Na segunda leitura, São Paulo mostra como as tribulações que sofre não abrandam o seu ardor missionário, que se caracteriza pela grande confiança em Deus e na vida eterna que há de conceder; duas grandes atitudes qualificam o ministério de Paulo: a esperança de estar unido com Jesus na ressurreição tal como o está na tribulação terrena e o desejo íntimo de estar em comunhão com os cristãos a quem anuncia o Evangelho de Jesus Cristo.

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