1º Domingo do Advento - Ciclo C

29-11-2015 09:40

 

"Erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.” Lc 21, 28

 

 

Por estes dias, vários amigos meus, e eu com eles, atingimos aquele número redondo de cinquenta anos. E é curioso sentirmo-nos sem o peso de uma idade que, quando aos 20 olhávamos para o futuro, nos parecia distante e tão sinónimo de “princípio de velhice”. É com um misto de agradecimento, de estupefacção pelo tempo que passa tão depressa, e também de alguma genica para o futuro, com tantos sonhos que ainda acalentamos, que estamos a vivê-los. Sim, até aqui foi bom, mas “o melhor está para vir”! E ao começar o Advento, este tempo infelizmente gasto pelo frenesim do Natal, recolho-me a ouvir, do (belíssimo) último disco da cantora Mariza, uma das músicas que se intitula “Melhor de mim”: “Hoje a semente que torna na terra / E que se esconde no escuro que encerra / Amanha nascerá uma flor. / Ainda que a esperança da luz seja escassa / A chuva que molha e passa / Vai trazer numa luta amor. // Também eu estou à espera da luz / Deixou-me aqui onde a sombra seduz. /Também eu estou à espera de mim / Algo me diz que a tormenta passará.”

Tem o sabor de um hino para o Advento, o tempo grande da esperança, em que refazemos os caminhos de um povo que esperava um salvador, e nos perguntamos: que esperança é possível neste tempo frágil e ameaçado que é o nosso, que sonhos maiores alimentar quando o peso das dificuldades nos encurva o corpo e inclina a cabeça? De novo, o ritmo da liturgia ousa propor a esperança. As forças do universo abaladas são um símbolo de algo novo que está para acontecer. E isso não é, necessariamente, o pior. Mesmo em grandes desgraças há mil e uma pequenas graças que nos revelam algo de bom, algo de grandioso. Como esquecer os amigos, namorados, ou desconhecidos, que se colocavam à frente das balas dos terroristas de Paris, para salvar os que amavam ou mesmo quem não conheciam? Nada justifica o mal, mas perante ele, o bem parece crescer onde não julgávamos existir! Jesus não quer atemorizar com as suas palavras, antes convida a “erguer a cabeça”, a “ter cuidado” connosco, e a não deixarmos os corações tornarem-se pesados pela“intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida”. Quase sinto Jesus a dizer-nos: “Olhem que o melhor ainda virá!”

E saboreando esta espera que o Advento semeia, volto à canção da Mariza: “É preciso perder para depois se ganhar / E mesmo sem ver, acreditar. / É a vida que segue e não espera pela gente / Cada passo que demos em frente / Caminhando sem medo de errar. / Creio que a noite sempre se tornará dia / E o brilho que o sol irradia / Há-de sempre me iluminar. // Sei que o melhor de mim está pr'a chegar! / Sei que o melhor de mim está por chegar. / Sei que o melhor de mim está pr'a chegar.”

Também estas quatro semanas passarão depressa. Mas desejo que o tempo depois dos cinquenta ganhe um outro contorno, de sabedoria e simplicidade, de coragem para resistir à onda alucinante das coisas inúteis, e de uma serena alegria em saborear o melhor que cada dia traz e que em cada dia damos. Obrigado Mariza, pelo belíssimo disco! Obrigado Jesus, por nos dares sempre futuro!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

Neste 1º Domingo do Tempo do Advento, a Palavra de Deus apresenta-nos uma primeira abordagem à “vinda” do Senhor.

  • Na primeira leitura, pela boca do profeta Jeremias, o Deus da aliança anuncia que é fiel às suas promessas e vai enviar ao seu Povo um “rebento” da família de David. A sua missão será concretizar esse mundo sonhado de justiça e de paz: fecundidade, bem-estar, vida em abundância, serão os frutos da acção do Messias.
  • O Evangelho apresenta-nos Jesus, o Messias filho de David, a anunciar a todos os que se sentem prisioneiros: “alegrai-vos, a vossa libertação está próxima. O mundo velho a que estais presos vai cair e, em seu lugar, vai nascer um mundo novo, onde conhecereis a liberdade e a vida em plenitude. Estai atentos, a fim de acolherdes o Filho do Homem que vos traz o projecto desse mundo novo”. É preciso, no entanto, reconhecê-l’O, saber identificar os seus apelos e ter a coragem de construir, com Ele, a justiça e a paz.
  • A segunda leitura convida-nos a não nos instalarmos na mediocridade e no comodismo, mas a esperar numa atitude activa a vinda do Senhor. É fundamental, nessa atitude, a vivência do amor: é ele o centro do nosso testemunho pessoal, comunitário, eclesial.

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