1º Domingo do Advento - Ano A

27-11-2016 09:10

 

 

“Vigiai, porque não sabeis  em que dia virá o vosso Senhor.” Mt 24, 42

 

Sabemos que há diferentes tipos de espera. A espera do autocarro que nunca mais vem e a de um amigo que começamos a preparar horas antes; a espera por um exame a fazer e a de um bebé ansiosamente aguardada. Esperamos com paciência e gozo antecipado, ou com nervosismo e indignação pelo mais pequeno atraso. E como a sabedoria popular gosta de contemplar todas as hipóteses, lá nos dividimos entre o que “quem espera, desespera” e o “quem espera, sempre alcança”! Mas existe uma diferença entre a espera passiva de quem cruza os braços para receber o futuro e a de quem tudo prepara e caminha para ir ao seu encontro. É a esta que podemos dar o nome de esperança!

Escutando alguns professores meus amigos, sofro com eles a falta de esperança que testemunham em muitos dos seus adolescentes e jovens alunos. Aumenta nos mais novos a febre do imediato, o dia a dia sem grandes sonhos, a falta de imaginação e de raciocínio que distingue heróis de ídolos, a espera de que tudo “apareça feito” ou se faça “sem muito esforço”. O mais doloroso ainda é o desânimo que muitos dos educadores acumulam pelo seu estatuto de “air-bags” entre a burocratização do ensino e a demissão/híper-protecção dos pais. Que esperança para a escola? Que esperança para as famílias? Não é ficando “à espera” uns dos outros que ela se pode renovar!

Israel alimentou a esperança de um Messias durante muito tempo. Um rei, um guerreiro, um líder que reconstruísse a sua glória e estabelecesse a paz. Que pudesse contar com todos, mas, se fosse suficientemente poderoso para fazer o mais difícil sozinho, melhor ainda. “Dava tanto jeito que não tivéssemos de ser nós a esforçar-nos e a desinstalar-nos dos nossos privilégios”, pensariam alguns. Daí que Jesus não tenha encaixado bem nessa “esperança”. Convidou à conversão e à mudança, a perdoar e a amar os inimigos, a ser límpido com Deus e com os outros, a tratar por irmãos a ralé e os estrangeiros, a um culto em espírito e verdade, a dar a vida como Ele. E, em tudo, a sermos responsáveis! Essa substancial diferença da esperança activa, talvez a melhor aprendizagem que a escola e a família podem oferecer.

Entramos de novo em Advento, início dum novo ano litúrgico. Não é um ciclo de eterno retorno, mas a espiral ascendente do tempo cristão, que faz de cada dia o “tempo favorável”, como lembra S. Paulo aos Romanos: “Chegou a hora de nos levantarmos do sono, porque a salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçámos a fé” (13, 11). Talvez seja esta uma palavra de esperança para a assembleia sinodal da Diocese de Lisboa que decorre neste início de Advento. Mas como na escola, no trabalho, na família e na vida, a grande diferença será entre a espera que pode acontecer sem nós e a esperança que irá ter a nossa marca! O que escolhemos?

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia deste domingo apresenta um apelo veemente à vigilância. O cristão não deve instalar-se no comodismo, na passividade, no desleixo, na rotina, na indiferença; mas deve caminhar, sempre atento e vigilante, preparado para acolher o Senhor que vem e para responder aos seus desafios.

  • A primeira leitura convida os homens – todos os homens, de todas as raças e nações – a dirigirem-se à montanha onde reside o Senhor. É do encontro com o Senhor e com a sua Palavra que resultará um mundo de concórdia, de harmonia, de paz sem fim.
  • A segunda leitura recomenda aos crentes que despertem da letargia que os mantém presos ao mundo das trevas (o mundo do egoísmo, da injustiça, da mentira, do pecado), que se vistam da luz (a vida de Deus, que Cristo ofereceu a todos) e que caminhem, com alegria e esperança, ao encontro de Jesus, ao encontro da salvação.
  • O Evangelho apela à vigilância. O crente ideal não vive mergulhado nos prazeres que alienam, nem se deixa sufocar pelo trabalho excessivo, nem adormece numa passividade que lhe rouba as oportunidades; o crente ideal está, em cada minuto que passa, atento e vigilante, acolhendo o Senhor que vem, respondendo aos seus desafios, cumprindo o seu papel, empenhando-se na construção do “Reino”.

portugal@dehonianos.org  – www.dehonianos.org