A Ascensão do Senhor - Ano A

01-06-2014 15:48

 

"Ide e ensinai todas as nações.”

Mt 28, 19

 

Sempre tive uma secreta inveja dos pássaros. E quando os vejo de asas abertas a planar no céu vem-me um desejo de ser como o Fernão Capelo Gaivota, ou de, um dia destes, arriscar algo parecido, como um voo de parapente! Lembro-me disto porque a Ascensão de Jesus não é um voo de foguetão, mas aponta para um céu que não se encontra acima de nós, e sim, dentro de nós. Quantas vezes tenho repetido aquela palavra de S. João XXIII a paraquedistas italianos: “Meus filhos, vós que tantas vezes desceis do céu à terra, vejam lá se se esquecem de subir da terra ao céu!”. A despedida de Jesus após a ressurreição coloca o ilimitado do céu no horizonte da terra, e eleva a humanidade frágil à comunhão com Deus.

 

No envio dos discípulos Jesus revela a máxima confiança de Deus. Com o dom do Espírito, aqueles que acreditam e os que hão-de acreditar em Jesus serão testemunhos vivos do seu amor. Curiosamente o tema do dia mundial das comunicações sociais que neste domingo se celebra é, simplesmente, “Uma rede de pesso@s”, e a mensagem do Papa Francisco tem como subtítulo: “comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro”. Bem sabemos como este é um tema querido do Papa, e a recente viagem à Terra Santa mostrou-o em palavras e gestos: beijar as mãos aos sobreviventes do holocausto, parar e tocar inesperadamente no muro que separa Israel e a Palestina, abraçar os seus amigos rabi e imã da Argentina. Diz o Papa Francisco: “não se trata de reconhecer o outro como um meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro. Por isso, comunicar significa tomar consciência de que somos humanos, filhos de Deus. Apraz-me definir este poder da comunicação como «proximidade» […]“Abrir as portas das igrejas significa também abri-las no ambiente digital, seja para que as pessoas entrem, independentemente da condição de vida em que se encontrem, seja para que o Evangelho possa cruzar o limiar do templo e sair ao encontro de todos. Somos chamados a testemunhar uma Igreja que seja casa de todos. Seremos nós capazes de comunicar o rosto duma Igreja assim?”

Em Junho, Lisboa já se vestia habitualmente de festa, pois Santo António marca o ritmo. E este ano a vida eclesial não fica atrás: neste domingo a ordenação episcopal de D. José Traquina, a 13 a Missa e Procissão de Santo António, o Dia da Igreja Diocesana a 15, o Corpo de Deus a 22, e, a 29, festa de S. Pedro e São Paulo, as Ordenações. No meio das muitas crises pode haver espaço para a festa e para a alegria, e o novo bispo, que escolheu o lema “Alegrai-vos no Senhor”, di-lo explicitamente: “Sempre me situei na alegria da vida cristã, tendo muito presente na animação das comunidades cristãs a dimensão da festa. A festa faz mesmo muita falta; numa comunidade cristã tem de haver perdão e tem de haver festa”.

Aquele “ensinai todas as nações” que Jesus confiou aos apóstolos, não é apenas um conteúdo intelectual: é uma vida renovada com Ele. Abraça todas as dimensões humanas, leva luz à escuridão e quebra as correntes que aprisionam. Bem dizia S. Ireneu: “A glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus”!

Pe. Vitor Gonçalves

 

 

A Festa da Ascensão de Jesus, que hoje celebramos, sugere que, no final do caminho percorrido no amor e na doação, está a vida definitiva, a comunhão com Deus. Sugere também que Jesus nos deixou o testemunho e que somos nós, seus seguidores, que devemos continuar a realizar o projecto libertador de Deus para os homens e para o mundo.

  • O Evangelho apresenta o encontro final de Jesus ressuscitado com os seus discípulos, num monte da Galileia. A comunidade dos discípulos, reunida à volta de Jesus ressuscitado, reconhece-O como o seu Senhor, adora-O e recebe d’Ele a missão de continuar no mundo o testemunho do “Reino”.
  • Na primeira leitura, repete-se a mensagem essencial desta festa: Jesus, depois de ter apresentado ao mundo o projecto do Pai, entrou na vida definitiva da comunhão com Deus – a mesma vida que espera todos os que percorrem o mesmo “caminho” que Jesus percorreu. Quanto aos discípulos: eles não podem ficar a olhar para o céu, numa passividade alienante; mas têm de ir para o meio dos homens, continuar o projecto de Jesus.
  • A segunda leitura convida os discípulos a terem consciência da esperança a que foram chamados (a vida plena de comunhão com Deus). Devem caminhar ao encontro dessa “esperança” de mãos dadas com os irmãos – membros do mesmo “corpo” – e em comunhão com Cristo, a “cabeça” desse “corpo”. Cristo reside no seu “corpo” que é a Igreja; e é nela que Se torna, hoje, presente no meio dos homens.

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