6º Domingo da Páscoa - Ano C

22-05-2022 07:43

 

“[O Espírito Santo] vos ensinará todas as coisas

e vos recordará tudo o que Eu vos disse.” Jo 14, 26

 

Olho para os primeiros passos da Igreja e sinto-me, por vezes, a trilhá-los com os primeiros apóstolos. Aquele desejo de levar a todos a boa nova de Jesus como se leva um presente aos amigos que nos enchem o coração está na raiz da evangelização (às vezes demasiado fundo para poder aflorar às palavras e aos gestos). Com a dificuldade de o “cristianismo” ser hoje “religião conhecida” e ter-se, tantas vezes, desviado do essencial, aliando-se ao provisório e criando formalismos que lhe obscurecem a beleza, o desafio é sempre actual: oferecer a frescura e a novidade do encontro com Deus em seu Filho Jesus Cristo.

Foram e são grandes as tentações de programar a acção do Espírito Santo. E quanto mais regras, maior é a tentação de julgar os outros, os “não-cumpridores”, os que não cabem dentro dos esquemas. A proposta cristã é um caminho e a sua grande originalidade é a construção de comunidades. É a pedagogia de Jesus: fazer amigos, construir uma vida com outros. Aprender a partilhar não é facultativo, e uma fé que não se vive com outros não é cristã. Pode saber-se imenso de teologia, ter-se lido os melhores autores espirituais, saber de cor citações da Bíblia, mas se não se integra todo esse saber num viver partilhado ele pode “inchar” mas não faz crescer.

Lembro-me de Chesterton, que costumava comentar que só quando se partilha a pessoa se sente realizada. Com graça, dizia: “Se dois vão juntos e só um leva guarda-chuva, tem de partilhar o guarda-chuva. Se nenhum dos dois leva guarda-chuva, tem de se partilhar a alegria e o bom humor de se molharem”. Não há tanta infelicidade por aí que tem a sua origem em vidas que não se aprenderam a partilhar?

Paulo e Barnabé sentiram o perigo da Lei sobrepor-se ao Espírito. E não estiveram com meias medidas: foram ter com os Apóstolos e confrontaram-nos. Foi o primeiro Concílio. E a beleza da fórmula encontrada, “O Espírito Santo e nós...” deveria ecoar em todos os nossos discernimentos! Como aconteceu no Concílio Vaticano II. E como o Papa Francisco nos convoca a fazer acontecer com a sinodalidade, este “caminhar juntos”, “na escuta e na abertura a todos”, não apenas para preparar o Sínodo dos Bispos do próximo ano, mas para corresponder ao essencial de “sermos Igreja”. Será que não podemos já pôr em prática muito do que foi reflectido e partilhado em grupos, comunidades, paróquias e dioceses? Como se caminha juntos?

Pois é, o Espírito não impõe; abre caminhos, alarga horizontes, descobre possibilidades, abate muros, faz pontes, abraça e acolhe. Interpela constantemente a rigidez e o atrofiamento das almas. Gera sorrisos no coração que, às vezes, chegam aos olhos e aos lábios. Ensina a partilhar o melhor de cada um. É o milagre constante da Igreja a acontecer, quando acolhemos o Espírito Santo que nos ensina todas as coisas e recorda tudo o que Jesus nos disse.

Pe.Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

Na liturgia deste domingo sobressai a promessa de Jesus de acompanhar de forma permanente a caminhada da sua comunidade em marcha pela história: não estamos sozinhos; Jesus ressuscitado vai sempre ao nosso lado.

  • No Evangelho, Jesus diz aos discípulos como se hão-de manter em comunhão com Ele e reafirma a sua presença e a sua assistência através do “paráclito” – o Espírito Santo.
  • A primeira leitura apresenta-nos a Igreja de Jesus a confrontar-se com os desafios dos novos tempos. Animados pelo Espírito, os crentes aprendem a discernir o essencial do acessório e actualizam a proposta central do Evangelho, de forma que a mensagem libertadora de Jesus possa ser acolhida por todos os povos.
  • Na segunda leitura, apresenta-se mais uma vez a meta final da caminhada da Igreja: a “Jerusalém messiânica”, essa cidade nova da comunhão com Deus, da vida plena, da felicidade total.
 
Grupo Dinamizador
Pe. Joaquim Garrido – Pe. Manuel Barbosa – Pe. Ornelas Carvalho
 
 
 
Rádio Renascença