33º Domingo do Tempo comum - Ano A

19-11-2023 16:46

 

 

“Tive medo e fui esconder o teu talento na terra.” Mt 25, 25

 

Talvez o grande problema do criado que escondeu o talento na terra tenha sido um erro de perspectiva: não reparou que não se tratava de nenhuma semente! E, ainda assim, todos os dons são como as sementes: se os tirarmos da sacola da alma e os lançarmos ao terreno indicado, multiplicam-se. Porque trazem consigo uma força insuspeitada e surpreendente, condição da própria felicidade.

Quando veio ter comigo, trazia a alma enrodilhada e sem horizontes. Precisava sobretudo de ser ouvido. A pena de si próprio andava a corroer-lhe os ténues sinais de confiança e esperança. Achava que não valia nada e alimentava a inveja dos que têm e dos que podem. Não lhe disse muita coisa, mas pu-lo a ler a parábola dos talentos. Como se não fosse para ele. No fim pediu-me emprestado aquele Novo Testamento usado e levou-o com ele. Voltou há dias, de surpresa. Vinha com um olhar diferente. Só para dizer que tinha descoberto o seu talento. E mesmo sendo só um andava a desenterrá-lo. Para o pôr a render!

Nem sempre quem parece ter mais dons é necessariamente quem melhor os aplica. E entre quem tem muitos ou tem poucos, encantam-me aquelas pessoas que ajudam a descobrir os talentos que estavam escondidos. Não só os das artes, do cinema, do teatro, da literatura, mas principalmente, os da vida. Aqueles que do pouco fazem muito, que potenciam as nossas poucas possibilidades e fazem autênticos milagres de beleza, de partilha e de serviço! São os que não vêem em ninguém um derrotado, os que, como Jesus, se apaixonam pela realidade de cada pessoa, e até têm um gosto especial em fazer obras-primas daquilo que “não presta”. Somos uma sociedade do lixo e do desperdício. Vamos lá a ver se não deitamos fora o que tem tanta vida! Não enterremos os talentos, nem por medo, nem por achar “que não valem nada”!

E se o talento é a grande riqueza da palavra de Deus e a vida em abundância que Jesus nos ensina a viver? Será medo ou preguiça o que nos impede de os fazer render? Ou verdadeiramente não acreditamos na força que Deus dá quando somos empreendedores ousados? Cuidado com a espiritualidade dos “mínimos”, do evitar pecar, da segurança dos rituais e dos hábitos religiosos, do medo de errar. Só não erra quem nunca tenta, quem não arrisca, quem não sonha nem acredita. Não escondamos o tesouro multiplicador de vida e graça do Evangelho!

Pe. Vitor Gonçalves,

in Voz da Verdade

 

 

A liturgia do 33º Domingo do Tempo Comum recorda a cada cristão a grave responsabilidade de ser, no tempo histórico em que vivemos, testemunha consciente, activa e comprometida desse projecto de salvação/libertação que Deus Pai tem para os homens.

  • O Evangelho apresenta-nos dois exemplos opostos de como esperar e preparar a última vinda de Jesus. Louva o discípulo que se empenha em fazer frutificar os "bens" que Deus lhe confia; e condena o discípulo que se instala no medo e na apatia e não põe a render os "bens" que Deus lhe entrega (dessa forma, ele está a desperdiçar os dons de Deus e a privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito).
  • Na segunda leitura, Paulo deixa claro que o importante não é saber quando virá o Senhor pela segunda vez; mas é estar atento e vigilante, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhando os seus projectos, empenhando-se activamente na construção do Reino.
  • A primeira leitura apresenta, na figura da mulher virtuosa, alguns dos valores que asseguram a felicidade, o êxito, a realização. O "sábio" autor do texto propõe, sobretudo, os valores do trabalho, do compromisso, da generosidade, do "temor de Deus". Não são só valores da mulher virtuosa: são valores de que deve revestir-se o discípulo que quer viver na fidelidade aos projectos de Deus e corresponder à missão que Deus lhe confiou.
 
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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