32º Domingo do Tempo Comum - Ano C

06-11-2022 08:11

 

“Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos.” Lc 20, 38

 

Há uma fome de uma palavra que abra a porta deste beco sem saída que é morte, que desate o nó górdio que fica nas gargantas. E quase tenho receio de falar da esperança em Jesus Cristo ressuscitado, que nos promete a vida eterna, como se já tivesse passado “umas férias na eternidade”! Porque a ressurreição vai ser, fundamentalmente, surpresa! Como surpreendente é a vida, para nós que saímos do seio da nossa mãe!

Por vezes gostaria de dizer as palavras de Sebastião da Gama num poema belíssimo a que chama “ressurreição”: “Senhor! / Eu bem Te vejo, apesar / da escuridão! / Inda me não tocou a Tua Mão, / mas bem na sinto, bem na sinto em meus cabelos, / numa carícia igual a um perfume ou a um perdão.” Há momentos em que as palavras dão lugar ao silêncio. Como o silêncio da terra enquanto germinam as sementes. Ou como o silêncio quando vemos um recém-nascido a dormir sereno. É o silêncio que responde aos nossos “porquês”, aquele que apenas pede um coração aberto ao mistério e à surpresa.

Creio que ressuscitamos todos os dias. Que é essa a força transformadora do evangelho de Jesus e, por isso, repito tantas vezes as duas frases do início de um outro poema do Sebastião: “Que a Morte, quando vier, / não venha matar um morto.” Sim, creio na ressurreição que há-de vir como dom aquando da morte. Mas essa é isso mesmo, dom, graça, surpresa abundante que vem de Deus e só dele depende. A outra, esta que me é dado abraçar todos os dias, está apenas à espera de que eu lhe dê a mão. Como escreveu o Papa Bento XVI, ainda Joseph Ratzinger, na sua biografia de Jesus: “Vida eterna significa a própria vida, a vida verdadeira, que pode ser vivida inclusive no tempo e que mais tarde nunca é contestada pela morte física. É isso que interessa: abraçar já, desde agora, “a vida”, a vida verdadeira, que já não pode ser destruída por nada nem por ninguém.”

Creio na ressurreição de não viver a correr para não pensar, de ter a coragem de duvidar e perguntar “porque é que tem de ser assim”? Creio na ressurreição de não nos acomodarmos aos gestos e aos ritos e corrermos os riscos de criar, inventar, inovar, imaginar, sonhar (já perdemos a capacidade de sonhar?). Creio na ressurreição de abrir caminhos de esperança e não passarmos indiferentes a quem sofre, de não deixarmos de fazer o pouco com pena de não fazermos muito, de sermos capazes de sorrir e não cobrarmos nada por isso, de gostarmos de dar alegria com simplicidade. Creio em Jesus Ressuscitado que me ressuscita. E é sempre surpreendente viver assim!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo propõe-nos uma reflexão sobre os horizontes últimos do homem e garante-nos a vida que não acaba.

  • Na primeira leitura, temos o testemunho de sete irmãos que deram a vida pela sua fé, durante a perseguição movida contra os judeus por Antíoco IV Epifanes. Aquilo que motivou os sete irmãos mártires, que lhes deu força para enfrentar a tortura e a morte foi, precisamente, a certeza de que Deus reserva a vida eterna àqueles que, neste mundo, percorrem, com fidelidade, os seus caminhos.
  • No Evangelho, Jesus garante que a ressurreição é a realidade que nos espera. No entanto, não vale a pena estar a julgar e a imaginar essa realidade à luz das categorias que marcam a nossa existência finita e limitada neste mundo; a nossa existência de ressuscitados será uma existência plena, total, nova. A forma como isso acontecerá é um mistério; mas a ressurreição é uma certeza absoluta no horizonte do crente.
  • Na segunda leitura temos um convite a manter o diálogo e a comunhão com Deus, enquanto esperamos que chegue a segunda vinda de Cristo e a vida nova que Deus nos reserva. Só com a oração será possível mantermo-nos fiéis ao Evangelho e ter a coragem de anunciar a todos os homens a Boa Nova da salvação.
 
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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Rádio Renascença
 
Padre Vitor Gonçalves