3º Domingo da Quaresma - Ano C

20-03-2022 08:10

Odres Nuevos - III Domingo Adviento 2022

 

"Talvez venha a dar frutos." Lc 13, 9

 

Encantou-me esta frase de Simone de Oliveira que dá título a uma entrevista sua à “Visão”, dias antes do derradeiro concerto da sua carreira de 65 anos. Porque já lha ouvi numerosas vezes e é um belo retrato da pessoa autêntica, “uma senhora que diz as coisas, que dá broncas, que diz o que pensa”, como refere que o público a vê. Também porque é uma frase que tem um sabor bíblico, que podemos encontrar em muitas páginas do Evangelho nas palavras de Jesus, sempre a olhar os futuros de todos os que liberta, cura e perdoa.   

Há um peso na palavra “pecado” que prende demais ao passado, e faz da reconciliação um julgamento custoso. Há uma tristeza no tempo da quaresma, que se instala no reconhecimento do mal feito sem o entusiasmo expectante da alegria do futuro. Há uma tentação de ficar preso ao que aconteceu, sem a sabedoria da aprendizagem nem a abertura das “janelas” por onde se vêm os horizontes que Deus abre. É preciso mudar de atitude, de pensamento, de olhar e de acção: enfim, olhar para a frente, com Deus que nos ressuscita!

Moisés tinha-se dado mal com a resolução das injustiças pela violência. Desistira de se interessar pela mudança do mundo. É aos oitenta anos que Deus o vai desinstalar e fazer dele libertador de um povo. Porque Deus sai do céu onde gostamos de O colocar: Ele vê, escuta, conhece e desce ao encontro de quem sofre. E a sua resposta ao sofrimento é sempre escolher alguém para construir um futuro que derrote o mal, que salve as pessoas. Escolhe Moisés, como nos escolhe a nós: cada um a pensar em todos!

S. Paulo acorda os coríntios da instalação “religiosa” a que se habituaram. Compara-os aos israelitas que saíram do Egipto e experimentaram a presença de Deus, mas não mudaram a vida e o pensamento. Todos esses morreram sem entrar na Terra prometida. Usando os símbolos do Êxodo, afirma que não basta acreditar em Cristo (novo Moisés), ser baptizado (passagem do mar vermelho), receber o espírito (entrar na nuvem) e alimentar-se da Eucaristia (pão e vinho / maná e água) para a salvação. É preciso a mudança / conversão, uma vida toda em consonância com a boa nova de Cristo. Desinstalar-se do passado e abraçar o futuro. 

Jesus resiste à tentação de explicar o mal ou reagir com violência aos sofrimentos do massacre de Pilatos ou da torre que desabou. Não é reactivo mas proactivo. É precisa a coragem da conversão. A violência e a força são prisioneiras do passado, não resolvem nada. Antes criam problemas maiores. Pensar e agir de modo diferente, à maneira de Jesus, torna possível um mundo novo. Por isso a figueira que pode vir a dar frutos é símbolo de cada um de nós. A paciência e a urgência de mãos dadas combatem a indiferença e a derrota. Ah, se conseguíssemos mais “olhar para a frente”…!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

 

Nesta terceira etapa da caminhada para a Páscoa somos chamados, mais uma vez, a repensar a nossa existência. O tema fundamental da liturgia de hoje é a “conversão”. Com este tema enlaça-se o da “libertação”: o Deus libertador propõe-nos a transformação em homens novos, livres da escravidão do egoísmo e do pecado, para que em nós se manifeste a vida em plenitude, a vida de Deus.

  • O Evangelho contém um convite a uma transformação radical da existência, a uma mudança de mentalidade, a um recentrar a vida de forma que Deus e os seus valores passem a ser a nossa prioridade fundamental. Se isso não acontecer, diz Jesus, a nossa vida será cada vez mais controlada pelo egoísmo que leva à morte.
  • A segunda leitura avisa-nos que o cumprimento de ritos externos e vazios não é importante; o que é importante é a adesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar a sua proposta de salvação e de viver com Ele numa comunhão íntima.
  • A primeira leitura fala-nos do Deus que não suporta as injustiças e as arbitrariedades e que está sempre presente naqueles que lutam pela libertação. É esse Deus libertador que exige de nós uma luta permanente contra tudo aquilo que nos escraviza e que impede a manifestação da vida plena.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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