29º Domingo do Tempo Comum - Ano A

22-10-2023 08:19

“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” Mt 22, 21

 

Nunca foram fáceis (nem nunca serão) as relações entre os “senhores” deste mundo e a fé cristã. E é de desconfiar quando andam de mãos dadas! Porque a grande maioria dos “senhores” sofrem da tentação da grandeza que os faz pequenos deuses, capazes das maiores atrocidades para beneficio pessoal ou dos seus. E se a “religião” puder dar uma “ajudazinha” até aprendem teologia! Claro que não é preciso olharmos para os grandes “monstros” da história: os escândalos sucedem-se com figuras que achávamos respeitabilíssimas e, quase sempre, com dinheiro à mistura! Como é possível vender-se a honra, a palavra, os valores por mais alguns milhares de euros? A mesma hipocrisia já grassava entre os fariseus: revoltavam-se contra os impostos romanos mas acomodavam-se e aproveitavam-se dos benefícios que a nova ordem trazia. E, talvez como hoje, não consta que seriam os que mais tinham os que mais protestavam (nunca são os ricos que pagam a crise, pois não?). Jesus ultrapassa a lógica mesquinha e armadilhada dos fariseus. Não proclama uma separação de mundos nem descompromete os seus discípulos da intervenção política e económica. Não encerra a acção dos cristãos nas igrejas e sacristias (como muitos “senhores” gostariam!), mas, pelo contrário, convida a um empenho na construção deste mundo. Quem é de Cristo tem de ser contra a corrupção e o oportunismo, tem de estar do lado dos explorados e oprimidos, não pode refugiar-se nas “capelinhas” onde vão os “bonzinhos” e os “satisfeitos”!

É esse o problema: viver a fé cristã faz-nos incómodos. Não temos as soluções mas podemos indignar-nos, podemos juntar a nossa voz a outras, podemos reflectir em comum. Será que deixámos de amar (ao contrário do nosso Mestre) as ovelhas “negras”, aquelas que correm o risco de se perder ao protestarem contra o conformismo, aquelas que conseguem ver como a imagem de César e de Deus são apresentadas, tantas vezes, justapostas? Temos tido a coragem de levar a Boa Nova de Jesus a “outras terras”, a outros corações ou vamos continuando a “chover no molhado”? Estar “empanturrado” de religiosidade nem sempre significa coragem de viver a fé cristã! E o que dizer do “dai a Deus o que é de Deus”? Se é no Homem que está impressa a imagem de Deus como podemos continuar a tratá-lo como objecto? Cada pessoa é sagrada, vale mais do que todo o dinheiro do mundo, não pode ser explorada, escravizada, oprimida por nenhuma razão.

Em abundantes imagens de desumanidade assistimos ao espectáculo das guerras na Ucrânia e ao reacender do interminável conflito entre Israel e a Palestina. Assinalamos no passado dia 18 o Dia Europeu de Combate ao Tráfico de Seres Humanos com a habitual indiferença. Escreve o Papa Francisco no final da carta “Laudate Deum”: “[este] é o título desta carta, porque um ser humano que pretenda tomar o lugar de Deus torna-se o pior perigo para si mesmo.” Que imagem de Deus somos e vivemos?

Pe. Vitor Gonçaves

in Voz da Verdade

 

A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum convida-nos a reflectir acerca da forma como devemos equacionar a relação entre as realidades de Deus e as realidades do mundo. Diz-nos que Deus é a nossa prioridade e que é a Ele que devemos subordinar toda a nossa existência; mas avisa-nos também que Deus nos convoca a um compromisso efectivo com a construção do mundo.

  • O Evangelho ensina que o homem, sem deixar de cumprir as suas obrigações com a comunidade em que está inserido, pertence a Deus e deve entregar toda a sua existência nas mãos de Deus. Tudo o resto deve ser relativizado, inclusive a submissão ao poder político.
  • A primeira leitura sugere que Deus é o verdadeiro Senhor da história e que é Ele quem conduz a caminhada do seu Povo rumo à felicidade e à realização plena. Os homens que actuam e intervêm na história são apenas os instrumentos de que Deus se serve para concretizar os seus projectos de salvação.
  • A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de uma comunidade cristã que colocou Deus no centro do seu caminho e que, apesar das dificuldades, se comprometeu de forma corajosa com os valores e os esquemas de Deus. Eleita por Deus para ser sua testemunha no meio do mundo, vive ancorada numa fé activa, numa caridade esforçada e numa esperança inabalável.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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