12º Domingo do Tempo Comum - Ano C

19-06-2022 08:17

 

“Disse-lhes Jesus: «E vós, quem dizeis que Eu sou?»” Lc 9, 20

 

Perguntar é um dos actos mais profundamente humanos. Revela o nosso desejo de saber mais e melhor, o que nos interessa verdadeiramente, e aquilo que queremos ser. Sempre imaginei que a escola devia ser o santuário onde se estimula e ensina a perguntar, mais do que um arquivo morto de respostas. Os professores de quem guardo melhores recordações foram os que gostavam de fazer nascer perguntas na minha cabeça e davam pistas para encontrarmos respostas. Encanta-me que a primeira frase de Deus dirigida ao homem recém-criado tenha sido uma pergunta: “Onde estás?”. E quantas vezes Ele a tem repetido…!

A pergunta de Jesus aos discípulos sobre quem dizem que é Ele marca um crescimento. Tem o sabor daquela que, numa relação, o amado ou a amada fazem um ao outro: “quem sou eu para ti?” E segundo a resposta, a relação tem “estrada para andar” e progride, ou fica por ali. É a partir da resposta de Pedro, ainda cheia do imaginário triunfalista associado ao Messias, mas capaz de ser purificada, que Jesus vai mais fundo na sua revelação. E começa a anunciar a paixão, a morte e a ressurreição, e a vida com “sinal mais” que a cruz traz consigo.

Seria bom pensarmos se Jesus não nos faz esta pergunta várias vezes ao longo da nossa vida. E ir ensaiando respostas, certamente entrelaçadas com outras perguntas nossas. Enquanto perguntamos e procuramos, isso é sinal de uma relação viva. O pior é quando deixamos de perguntar e responder, ou respondemos de “cor” (mas sem vir do coração) e vivemos a fé e os dias meio anestesiados, agarrando-nos ao acessório, quase descansando à sombra da cruz. Pergunto-me se na preparação de tantos jovens para o crisma, nas paróquias e colégios, não seria importante colocar uma paráfrase da pergunta de Jesus: “Quem dizeis vós que é a Igreja?”

A reforma da Cúria Romana que o Papa Francisco implementou com a publicação do documento “Praedicate Evangelium” (Anunciai o Evangelho) e se tornou efectiva a 6 de junho, em consonância com a preparação do Sínodo 2023, tem o sabor do Espírito que nos interpela e guia. “As reformas nas estruturas e na organização são necessárias, sem dúvida, mas o que é realmente importante é a renovação das mentes e dos corações das pessoas. Todos nós somos chamados a arregaçar as mangas”, escreve Francisco no prefácio do documento. E recorda que desde as reuniões que precederam o conclave em que foi eleito, o “futuro Papa” tinha sido convidado a fazer esta renovação. A pergunta “o que é a Igreja” é mais uma a que não podemos deixar de responder e ouvir as diferentes respostas. Ah, se perguntássemos mais e melhor!

Pe. Vitor Gonçalves

in Voz da Verdade

 

A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.

  • O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.
  • A primeira leitura apresenta-nos um misterioso profeta “trespassado”, cuja entrega trouxe conversão e purificação para os seus concidadãos. Revela, pois, que o caminho da entrega não é um caminho de fracasso, mas um caminho que gera vida nova para nós e para os outros. João, o autor do Quarto Evangelho, identificará essa misteriosa figura profética com o próprio Cristo.
  • A segunda leitura reforça a mensagem geral da liturgia deste domingo, insistindo que o cristão deve “revestir-se” de Jesus, renunciar ao egoísmo e ao orgulho e percorrer o caminho do amor e do dom da vida. Esse caminho faz dos crentes uma única família de irmãos, iguais em dignidade e herdeiros da vida em plenitude.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
portugal@dehonianos.org – www.dehonianos.org
 
 
Rádio Renascença
Pe. Vitor Gonçalves